Que culpa têm as rosas?

 

Marine Água Azul atende ao telefone na ASP


Numa bela tarde de verão, toca o telefone da ASP. Como era dia do seu plantão, Marine Água Azul estava no seu cantinho preferido da associação: o sofá cor-de-rosa, cheio de conchas do mar que fica justamente ao lado do telefone. Por esse motivo, foi ela quem atendeu à chamada. Do outro lado da linha, havia a voz desesperada de uma mulher, que dizia:

- Por favor, vocês, Super Protetores têm que nos ajudar! A velha disse que vai acabar com o jardim! 

- Calma - disse Marine, atenciosamente - conte a história toda. Nós vamos ajudar. Mas primeiro eu preciso saber o que aconteceu e de quem você está falando. Aliás, antes de tudo, com quem EU estou falando?

E então, a voz do outro lado da linha contou:

- Meu nome é Sônia, eu sou síndica de uma vila de casas aqui no Méier. São dezesseis casas, portanto dezesseis famílias moram aqui. Há alguns meses, a vila foi toda reformada. Colocamos interfones externos novos, trocamos as telhas das garagens e o portão grande, e logo na entrada, plantamos um lindo jardim. A moradora mais antiga da vila, dona Emengarda, ficou viúva recentemente. Pensei que o jardim fosse alegrá-la, mas ela continuou carrancuda. Com o tempo, foi só piorando! Começou a implicar com as crianças e animais de estimação que vivem na vila e na última semana seu alvo passou a ser o jardim! Ela disse que as roseiras a espetam, que as abelhas entram na sua casa, podendo mordê-la, que o canto dos pássaros que visitam o jardim a incomodam... Tentamos contornar isso conversando. Mas hoje, ela voltou da rua especialmente brava. Parece que sua filha mais nova irá mudar-se para o interior levando embora seu único neto. Dona Emengarda não quer ir com a filha, mas também não quer deixá-la ir. Só que a moça está decidida, já arranjou emprego e tudo na nova cidade. Então, agora ao chegar, assim que passou pelo jardim, a velha começou a arrancar as flores e a gritar que iria destruir todo o jardim!

- Hum. O caso é sério. Me dá o endereço da sua vila. Esse é um caso para a Rosa Jardineira!

 

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Rosa Jardineira vai cuidar dessa missão!

Marine pegou imediatamente seu celular e chamou Rosa pelo whatsapp. Ela estava em sua casa naquele momento, pois não era dia de seu plantão. Nesse dia na ASP, além de Marine, estavam Zeca Ar Puro e Florisbela Mata Verde.

Rosa anotou o endereço, pegou seu fusca verde com desenhos de flores, e sem passar pela ASP, seguiu direto para a vila onde precisava salvar um belo jardim!

O famoso fusquinha de Rosa Jardineira


Acelerando ao máximo que podia, lá foi nossa heroína das flores, aflita, rezando para chegar a tempo. Será que ela consegue?


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A velha Emengarda destruindo o jardim


Quando a Rosa Jardineira chegou ao local, encontrou o portão da vila aberto e os moradores aflitos, discutindo e tentando fazer a velha Emengarda se acalmar. Eles tentavam contê-la, mas não poderiam jamais usar de violência, ainda mais que se tratava de uma anciã! Assim, ela continuava a destruir o jardim. A cerquinha de madeira derrubada, flores desterradas, plantas diversas arrancadas, a mais bela roseira tombada e cheia de rosas despetaladas...

Então todos sentiram um perfume suave e agradável no ar com a chegada de Rosa. Dona Emengarda também sentiu, mas fez questão de ignorar. Rosa se aproximou dela, discretamente, colocando-lhe a mão no ombro. A anciã se assustou e se ergueu, olhando com uma expressão fechada para a boa mulher que lhe mostrava um sorriso de lábios.

- Quem é você e quem foi que te chamou aqui? - perguntou Dona Emengarda em um tom bastante grosseiro.

Rosa porém, não se abalou.

- Eu sou Rosa. Me chamam de Rosa Jardineira e faço parte dos Super Heróis Protetores dos Animais e da Natureza. Ou simplesmente Super Protetores. Ou SUPRO...

- Chega! Já entendi que você faz parte daquela turma de malucos que pensam que podem salvar o mundo e que eu pensava que fosse história da Carochinha!

- Não, dona Emengarda. Não é história da Carochinha. Nós somos reais. Poderia por gentilieza me contar o que está havendo? Fui chamada para ajudar um jardim que está em perigo e vejo que não foi trote nem engano, infelizmente.

Todos os moradores da vila que ali estavam, umas oito pessoas, continuaram acompanhando o desenrolar dos acontecimentos torcendo para que Rosa conseguisse "acalmar a velha", ou "a onça" como alguns disseram.

Diante da ternura transmitida pela moça à sua frente, a irritada senhora foi modificando sua expressão.

- Eu estou viúva. Meu marido era meu porto seguro. Nós dois nunca nos separamos e ele faleceu de repente, por infarto. Tenho vivido muito infeliz desde que isso aconteceu. Choro todos os dias e muitas horas do dia. Eu não gosto mais de ver a claridade do sol. As crianças - às vezes até meu próprio neto adolescente, os animais, os pássaros, borboletas, abelhas e até mesmo as flores me irritam profundamente. Esse jardim me incomoda! Ele me lembra que fui feliz um dia e que passeei por jardins como esse muitas vezes com meu falecido marido. Ele me faz tanta falta e é por isso que estou acabando com esse maldito jardim, essa maldita roseira! Eu vivo tão infeliz!

- Eu compreendo... Mas que culpa têm as rosas? - perguntou Rosa com ternura, passando o braço em torno de dona Emengarda, que ainda tinha mais a dizer. Lágrimas começaram a cair de seus olhos enquanto ela se preparava para continuar a narrativa.

- As rosas não têm culpa de nada. Mas... como contei a eles - disse ela apontando para os presentes - agora, pra tornar a minha vida ainda mais miserável e infeliz, a minha Joana resolveu ir embora pro interior. Arranjou um trabalho por lá, passou num concurso, sabe? Ele é meu único neto e ela é a única filha que me resta. Eu tive também um casal de gêmeos, mas eles já nasceram muito doentes e morreram cedo, o menino com 7 anos e a menina com 9. Depois disso eu levei cinco anos para engravidar novamente. E então nasceu a Joana, que devolveu a alegria para nossa vida. Mas depois da morte do Antônio e a notícia da mudança da Joana e do Rafael pra longe de mim, eu não tenho mais motivos para viver. Já estou velha, já passei da hora de morrer! Faço 80 anos nesse ano que vai começar...

Então, dona Emengarda caiu num choro convulsivo. Rosa a abraçou e deixou que ela chorasse e extravasasse toda sua tristeza. Quando ela finalmente se acalmou, Rosa falou:

- A senhora não gostaria de acompanhar sua filha e seu neto na mudança? Parece que eles ficariam muito felizes se a senhora fosse...

Dona Emengarda se irritou novamente:

- Menina, você sabe há quanto tempo eu moro nessa casa? Eu vi a construção dessa vila! Comprei a casa ainda na planta, há exatos 57 anos! Eu estava grávida dos gêmeos quando viemos morar aqui, dois anos depois da compra. Assim que a vila ficou pronta, nos mudamos pra cá. Não havia esse portão alto, nem interfone, nem as garagens, e muito menos jardins. Mas havia uma amizade e uma fraternidade muito grande entre os vizinhos. Passei momentos muito felizes aqui. Hoje os moradores são outros, que vieram pra cá porque compraram as casas dos antigos donos, as herdaram dos pais ou avós, ou então moram de aluguel... 

Rosa aproveitou a deixa:

- Mas se seu marido partiu desta Terra, os vizinhos são outros e sua filha vai embora do Rio, o que a prende aqui? Suas lembranças? Essas a senhora poderá levar para onde for! Mesmo porque, ficar aqui ou não, não fará diferença alguma, já que a vila está toda modificada, desde as pessoas até as reformas!

As palavras da nossa aspeira jardineira sortiram efeito e pareceram ter tocado profundamente o coração da sofrida anciã, que novamente começou a chorar muito. Mas logo se recuperou, encarou a bondosa protetora com um olhar meio envergonhado e disse:

- Você tem razão. O que me prende aqui? Nada. Vou acompanhar a minha família e acredito que isso fará os últimos anos, meses, dias da minha vida mais felizes do que se eu ficar aqui apenas reclamando, chorando e destruindo a beleza que me cerca. Eu... eu vou consertar o estrago que eu fiz no jardim. Não é porque eu estou triste que tenho que causar tristeza aos outros também! Mas, eu não sei se será possível reconstruir tudo, acho que algumas flores morreram...

- Calma. dona Emengarda. Não se preocupe com isso. Apenas me prometa que vai deixar o jardim, os pássaros, os insetos e também as crianças e animais de estimação em paz. Do estrago cuido eu!

Pela primeira vez, enxugando as lágrimas, dona Emengarda sorriu.

Diante dos olhares admirados de todos os presentes, Rosa uniu suas mãos e delas saiu um perfume suave que provocou uma névoa cor-de-rosa, a envolver todo o jardim. De repente, as flores foram recuperando suas pétalas e retornando à terra. A cerca voltou ao normal, e o jardim ficou perfeito novamente. Mas então, dona Emengarda notou que ainda havia uma rosa no chão. Uma linda rosa vermelha que havia sido cortada e parecia estar morrendo. Ela olhou para a flor com tristeza, como se lhe pedisse desculpas pelo seu ato de total estupidez.

Rosa entrega a flor a dona Emengarda


Rosa pegou a bela flor, a ergueu evolvendo-a com seu perfume mágico e a entregou à idosa dizendo:

- Ao chegar em casa, plante-a num vaso ou numa vasilha que a senhora tiver, usando um pouco da terra aqui do jardim. Regue-a diariamente com água fresca da torneira. Faça isso com todo amor e carinho. Ela viverá e logo, logo a senhora terá uma linda roseira. E então, antes da senhora partir com sua família para sua nova cidade, a replante aqui. A senhora assim a estará devolvendo ao jardim e ao mesmo tempo dando sua colaboração, deixando aqui, uma roseira plantada por suas mãos. Vamos! Coragem, fé, otimismo! Amanhã será um novo dia e um novo ano se iniciará, trazendo um novo perfume e um estado de ânimo também novo e mais alegre para a sua vida! Para as vidas de todos nós!

Entre abraços, sorrisos, e votos de FELIZ ANO NOVO, dona Emengarda voltou à sua casa segurando a rosa com todo carinho e um saquinho de terra, depois de se desculpar com todos que ali estavam. Eles entenderam que muitas vezes, o mau humor nasce de um grande sofrimento, amargura e infelicidade. Eles aprenderam que gentileza gera gentileza e que o amor cura todas as feridas da alma!

Agradecendo a ajuda da doce e alegre Rosa Jardineira, todos contemplaram a beleza do jardim e voltaram para suas casas. Ao passarem em frente à casa da anciã, a ouviram ao telefone, com uma voz alegre, dizendo:

- Minha filha, fazia tanto tempo que eu não plantava uma flor! Vou tirar uma foto aqui do vasinho que eu improvisei e vou mandar pra você ver que beleza que ficou! Vou plantar um jardinzinho na nossa nova casa, vai ficar lindinho, você vai ver...

E então ouviram o ronco do motor do fusquinha florido da Rosa Jardineira, sentindo mais uma vez, seu doce perfume no ar, preludiando tempos de renovação e felicidade para todos!
 
FIM












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