Baleia não é peixe!


Marine Água Azul surfa em Grumari sem saber o que a espera

O dia anterior tinha sido bastante cansativo para Marine Água Azul, a SUPRO protetora das águas marinhas, mamíferos do mar e peixes de água salgada. Ela havia nadado vários quilômetros despoluindo as águas e curado vários peixes que haviam ficado presos em plásticos e outros lixos que os humanos jogam no mar.

Então, no seu dia de folga, ela resolveu ir surfar na praia de Grumari. As ondas estavam perfeitas naquela manhã e Marine se sentia em paz enquanto flutuava sobre as ondas em sua prancha. 

Num dado momento, ela parou para lanchar. Nem havia acabado de saborear seu sanduíche de ricota com água de coco, quando uma garotinha que estava com sua família, que pelo jeito era turista, se aproximou dela correndo e chamou:

- Moça, moça! Olha ali atrás daquela pedra. O Super Homem quer falar com você! Mas ele agora usa roupas pretas!

Marine sorriu e, agradecendo à criança pelo recado, logo percebeu que Ziro Porteira Aberta estava a sua espera e usando seu uniforme de aspeiro. Provavelmente viera voando e ainda dissera à garotinha que ele era o próprio Super Homem! Marine conhecia bem o amigo! Ela se apressou, e chegou logo ao local indicado pela menininha. Lá estava ele com um ar preocupado.

- Que foi, Ziro? Hoje não era seu plantão na ASP, era?

- Não, Marine. Mas a Rosa, o Zeca e o Joãozinho estavam feito doidos à sua procura. Você não estava atendendo o celular. Então só podia estar aqui. Como eu estava de bobeira, me ofereci pra te encontrar.

- Mas então fala logo, Ziro. O que aconteceu de tão grave?

- Ligaram pra ASP. Vou te contar toda a história.


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Essa família velejava feliz antes de ver uma cena terrível


Enquanto Marine surfava, uma família pegava seu barco à vela na Marina da Glória e partia em direção ao alto mar. Eles tinham esse hábito fazia muitos anos, e estavam felizes, curtindo o passeio, até que se depararam com uma cena perturbadora que jamais imaginaram testemunhar em águas brasileiras, em pleno século XXI: Um barco baleeiro perseguia uma enorme baleia, que tentava de todas as maneiras se distanciar de seus inimigos.

A caça à baleia é proibida no Brasil há muito tempo, desde os anos de 1980, por isso aquilo era duplamente inaceitável: por ser um crime contra a vida e o meio ambiente e por ser uma prática ilegal. 

No momento em que viu a cena, o casal não hesitou, pensou logo em avisar à ASP. O celular ainda estava dando sinal e então, ligaram imediatamente para lá. Foi Zeca quem atendeu e então, todos passaram a procurar por Marine. Ziro, que estava em casa, ao ser avisado, vestiu seu uniforme e levantou voo imediatamente. 

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Ziro Porteira Aberta conseguiu encontrar Marine



Marine guardou o anel de água marinha que lhe fora dado por Zarah (e que permitia que ela entrasse nas águas do mar sem se transformar numa sereia) na sua mochila e a entregou a Ziro pedindo que ele a levasse, juntamente com a prancha, à ASP e que avisasse à polícia sobre a denúncia. 

Em seguida, a aspeira mergulhou naquele mar agitado e seguiu a indicação dada pelo amigo, nadando embaixo da superfície para não ser vista pelos criminosos ao se aproximar deles. Com a calda de sereia, Marine consegue nadar muito mais rápido do que quando nada como uma pessoa normal. Mesmo sendo nadadora profissional e salva-vidas!

Sendo assim, ela não demorou muito a chegar. A baleia já não tinha mais muita chance, porque os caçadores eram insistentes e usavam de todos os recursos possíveis para pegá-la. Chegaram a jogar-lhe dois arpões e um deles a havia atingido. Feriada, a baleia já não tinha mais a mesma resistência. 

Observando indignada, debaixo d'água, Marine percebeu que teria que pensar e agir rapidamente ou a pobre baleia acabaria mesmo sendo covardemente morta.

Marine observa a cena enquanto pensa numa maneira segura de salvar a baleia

O tempo estava passando e Marine ainda não sabia bem o que fazer. Tinha medo de que sua presença fizesse que os homens ferissem ainda mais a baleia, que àquela altura já se sentia encurralada.

Marine foi se aproximando do barco sem fazer barulho e de repente, paralisou, horrorizada. A voz de um dos caçadores lhe soava muito familiar. E então ela se lembrou do seu baile de 15 anos. As imagens vieram em sua mente como cenas de cinema em uma telona.

A festa. As quinze amigas em vestidos cor-de-rosa. Ela usando seu vestido branco. Seu jovem pai, aparentemente saudável e que pouco tempo depois sofreria um enfarte fatal, valsando alegremente com ela, sua filha única, pelo salão. Sua mãe, também muito jovem, imensamente animada, recebendo os convidados. E então, ELE. Sua outra valsa foi com ele. Seu namorado de um quase um ano, Fabiano. Marine estava apaixonada e ele também. 

Um dos sonhos de Fabiano era estar bem pertinho de uma baleia. Ele vivia dizendo isso, Marine se lembrava perfeitamente. Ele dizia amar a natureza tanto quanto ela. Por isso, naquele momento, ao reconhecer aquela voz, ela, invisível aos olhos do ex-namorado, embaixo d'água, perplexa e completamente sem ação, começou a chorar. Mas ao mesmo tempo, sentiu uma grande raiva e quase emergiu à superfície para dizer poucas e boas a Fabiano.

O ex-casal não se via há onze anos, quando Fabiano se mudou do Rio, indo morar no Espírito Santo com seu pai, que ele não via desde menino. Marine, que ficara órfã de pai naquela época se sentiu tão triste que, se não fosse todo amor e carinho de sua zelosa mãe, ela poderia não ter aguentado. A profissão como salva-vidas, e, posteriormente a ASP a ajudaram a se sentir de bem com a vida novamente. Mas naquele momento, lá estava ela, se reencontrando com seu passado.

Marine respirou fundo, usando seus poderes de sereia que pode respirar normalmente embaixo d'água,  e controlou sua raiva. Ela não queria prejudicar aquele ser inocente ainda mais. Pelo contrário: ela estava ali para salvá-la!

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Ferida, a baleia lutava por sua vida e tentava livrar-se dos caçadores


De repente, Marine teve uma grande ideia e logo colocou seu plano em prática. Poucos centímetros abaixo da superfície, ela começou a nadar em círculos, muito rapidamente, em volta do barco, com sua calda balançando freneticamente. Os caçadores ficaram assustados, sem entender qual era a origem daquele aparente redemoinho.

À medida em que girava, Marine ia, a cada volta que dava ao redor do barco, se afastando e assim, levando o barco na direção oposta à baleia. Quando já estava bem longe ela deu um pulo tão alto que, quando retornou, indo parar propositalmente dentro do barco, já com suas pernas humanas, fez dois dos homens caírem  no mar. E eles eram justamente Fabiano e seu pai, Joaquim. 

- Marine! - gritou o ex-namorado atônito, tentando retornar ao barco.

Seu Joaquim, mais tranquilo conseguiu retornar primeiro e foi logo encarando de frente e com o dedo em riste aquela bela jovem desconhecida.

- Quem é você afinal? Que truque é esse?

Foi Fabiano que, retornando ao barco, respondeu, ainda meio sem fôlego:

- Essa é a Marine, pai. Minha ex-namorada. Eu a deixei no Rio quando fui morar com o senhor depois de me desentender com a minha mãe.

- Não sabia que você tinha namorado uma sereia. Você nunca me contou sobre isso.

- Dessa parte eu também não sabia, pai. Marine, que história é essa?

E então, Marine, controlando seus sentimentos contraditórios, falou:

- Você me deixou no momento mais difícil da minha vida. Sumiu, mudou o número do seu celular... Eu não significava nada pra você. Mas eu sobrevivi. E pouco depois me tornei uma aspeira, uma SUPRO, uma Super Protetora dos Animais e da Natureza. Eu recebi, entre outros poderes, o de me tornar uma sereia quando nado em água salgada. Como você pode ver, eu me tornei alguém que salva os animais. Enquanto isso, você, que dizia amar as baleias se tornou um bandido, um criminoso, um assassino que as persegue e mata! As baleias, que você dizia querer ver de perto. Pra que? Pra fazer mal a elas?

Nesse momento Fabiano se sentiu imensamente envergonhado. De cabeça baixa, ele não conseguiu olhar Marine nos olhos e começou a chorar. Seu pai, vendo aquilo, ficou irritado:

- Agora vai chorar feito um bebezinho, só porque a ex-namoradinha te deu uma bronca? - e se dirigindo à heroína aspeira continuou:

- Escuta aqui, moça. Ele me falou desse tal sonho dele, de chegar perto das baleias e ele conseguiu. Isso me fez me interessar pelo assunto e me fez descobrir que poderíamos fazer disso um negócio lucrativo. Baleação, é o nome que dão. Há países que ainda exploram esse mercado. Nós estávamos passando muito aperto. Eu desempregado, o Fabiano também desempregado, meu outro filho casou, mudou e nem lembrança deixou. Convenci seu ex-namoradinho a deixar de lado esse sentimentalismo barato e me ajudar nessa empreitada. Estudei muito o assunto, aluguei este barco, convidei mais dois amigos e nós estávamos indo muito bem quando você apareceu e atrapalhou tudo! É muito dinheiro jogado fora, você sabia?

- Vocês iam cometer um crime, fazer uma prática ilegal no Brasil e tirar a vida de um ser inocente!

- Ah, moça. A pesca não é proibida, porque com a baleia tem que ser diferente. Só porque é um peixão enorme?

- O senhor disse que estudou tanto e não sabe o básico - disse Marine se aproximando bem do ex-sogro que jamais conhecera antes - BALEIA NÃO É PEIXE! E mesmo a pesca pode ser ilegal em certas circunstâncias e em determinados locais. Além disso, é bom lembrar que os peixes também sofrem, sentem dor, e têm direito à vida! Tanto quanto as baleias que o senhor está querendo cruelmente matar!

Fabiano não havia conseguido erguer os olhos até aquele momento. Mas então, enxugando as lágrimas que insistiam em cair, encarou Marine nos olhos e disse:

- Me perdoa, Marine. Primeiro por eu ter te deixado, ainda mais na ocasião da morte do seu pai. Minha mãe arranjou um cara que não era nada legal, sabe? Ele não era bom pra ela e eu briguei feio com ela. Precisei ir embora, mas nunca te esqueci. Meu perdoa também por isso aqui. Eu fui fraco e deixei meu pai me convencer a cometer esse crime. Mas eu já tinha falado com ele que eu queria desistir. Então quando ele jogou o arpão eu pedi a ele pra parar.

- É verdade - confirmou seu Joaquim, contrariado - você se acovardou!

- Não, pai. Eu cai em mim. Eu vi o tamanho da maldade que eu estava cometendo...

Nisso, ouve-se um barulho muito alto vindo do céu. Eles olham e apavorados, constatam que se trata de um helicóptero da polícia. Ziro havia chamado mesmo a polícia como Marine havia pedido. E agora?

- Por favor, por tudo que vivemos juntos, pelos nossos momentos felizes, não me entrega pra polícia! - pediu ele a ponto de se jogar aos pés de Marine.

A jovem aspeira começou a chorar, indecisa. Seu Joaquim e os outros homens nada diziam, tão chocados ficaram com a aproximação da polícia. 

E então jogaram uma escada de cordas. Fabiano continuou implorando que Marine não o entregasse à polícia e também pediu por seu pai. 

Controlando o choro, antes que os dois homens que desciam pela escada jogada do helicóptero que pairava bem acima de suas cabeças fazendo um barulho ensurdecedor, pisassem no barco, Marine, encarou o ex-namorado e com muita firmeza, declarou qual era sua decisão:

- Agora é tarde pra se arrepender. Eu sou uma Super Protetora dos Animais. Eu não protejo bandidos, muito menos aqueles que fazem mal justamente aos seres que jurei proteger. Adeus, Fabiano. Agora esse assunto não é mais comigo. Vou fazer a parte que me cabe. Vou curar a baleia da ferida que vocês causaram. 

Dizendo isso, ela não esperou mais! Pulou na água sem olhar para trás, transformando-se instantaneamente em sereia; mas ainda escutou o barulho das algemas sendo colocadas nos caçadores de baleias. Felizmente, era a primeira tentativa deles, e esta havia fracassado lindamente, graças a uma jovem aspeira que tinha, acima de tudo, um amor muito grande pelos animais e pela natureza.


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Marine com a baleia que acabara de salvar e curar

Marine nadou muito rapidamente em direção à baleia e a encontrou sangrando, nadando devagar. Ela estava, visivelmente sentido dor. 

Então a aspeira, sentindo muita pena do belo animal, aproximou-se e, imediatamente após retirar o arpão, colocando seus cabelos sobre a ferida aberta, usou seus poderes para regenerá-la completamente. A baleia pareceu abrir um sorriso de alívio e gratidão. Ela se aproximou de Marine e dançou feliz em volta dela. 

Marine não resistiu e deu um beijo na baleia, olhando-a bem nos olhos e a acariciou, se despedindo e sentindo a gratidão do grande mamífero marinho. Em seguida, emocionada e verdadeiramente feliz, seguiu seu rumo, ouvindo a baleia saltar e emitir sons, livre e feliz.

- Amor verdadeiro e incondicional somente os animais sabem dar. Quero aprender com eles. É isso que vale a pena. Todo o resto passa.

Ao nadar em direção à praia, ela passou por um barco e ouviu uma criança gritando:

- Mamãe, papai, irmãozinhos, olhem! Uma sereia!

Ela sorriu imaginando as crianças apontando para ela, e já adivinhando que naquele barco poderia estar justamente a família responsável pelo salvamento daquela linda baleia. Se perguntou o que eles diriam aos filhos e pensou em agradecer. Mas lembrou que Ziro já havia feito isso, por telefone. Seguiu nadando e saltando, feliz. Não conseguiu controlar um grito que surgia em sua garganta:

- Uhu!!! Viva as baleias!!!


FIM










Salvar as cobaias é legal!

Alunos de Lab Legal conversam no campus sobre testes em laboratório

Naquela manhã, em um dos colégios em que Roberto Lab Legal lecionava, alguns estudantes aproveitavam o intervalo entre as aulas para estudar, rever as matérias e também conversar sobre os mais diversos assuntos.

Um dos alunos dizia:

- Meu irmão trabalha naquele laboratório. E é muito triste. Ele quis salvar o coelhinho mas não pôde. Eu não queria trabalhar num lugar desses, é horrível o que eles fazem lá com os animais.

Enquanto seus colegas o ouviam, horrorizados e tomados de compaixão por aqueles seres inocentes, uma outra pessoa, chegando por trás, bem de mansinho, sem que eles percebessem, também escutava a conversa atentamente. Era o professor, cientista e super herói aspeiro Roberto Lab Legal.

Ele discretamente anotou o nome do laboratório, citado por seu aluno e já ia saindo quando o rapaz, que se chamava Igor, percebeu o movimento e se virou.

- Salve, professor! A gente estava conversando justamente sobre um assunto que te preocupa bastante, as experiências de laboratórios que usam animais como cobaias. 

- É, eu peguei uma parte da conversa de vocês. Vai chegar o dia que essas experiências não serão mais realizadas e garanto a vocês que esse dia está próximo - respondeu Lab, tentando confortar seus alunos.

- Mas enquanto isso animais continuam sofrendo e morrendo nessas experiências - interviu Luanda, uma das alunas que estava no grupinho.

- É verdade, professor Roberto. Não podemos nos esquecer que toda vida importa - completou Rafael, o outro aluno que ali estava.

Mas Lab procurou acalmá-los:

- Há jeito pra tudo, meus alunos. Vocês ainda têm muito a aprender.

E piscando um olho, ele retornou ao prédio do colégio deixando os alunos continuarem sua conversa sentados no gramado.


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Anoitecia. Sentado, pensativo olhando as crianças que brincavam na pracinha, Lab ouvia em seu celular o áudio de Ziro, que dizia:

- Mas Lab, a gente tinha combinado. Essa noite você fica na ASP no meu lugar. Esse ensaio do circo é importante, eu não posso faltar.

- Eu sinto muito, Ziro, mas o que tenho a fazer agora é mais importante. É mais uma missão como SUPRO. Eu não posso virar as costas pra essa situação e nem adiar. A ação precisa ser  feita hoje!

E após enviar o áudio, Lab desligou o celular, falando pra si mesmo: "Desculpa, Ziro. Mas no meu lugar você faria o mesmo, eu sei".


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Discretamente Zarah observa os movimentos de Roberto Lab Legal


Sem perceber que desde a pracinha já estava sendo observado por Zarah (a extraterrestre criadora dos Super Protetores), que havia se escondido atrás de uma das árvores que havia no local, Roberto seguiu para o laboratório. Ele já tinha todo o plano arquitetado em sua cabeça. Como sempre, seria bem rápido.

Roberto se aproximou do local. Bateu. O vigia atendeu e não viu ninguém. Àquela altura Rob Lab já estava invisível! Silenciosamente, ele passou pelo guarda antes que este fechasse novamente a porta. 

Colocando algumas gotinhas de um sonífero poderoso na garrafa d'água do vigia, Lab se sentou numa poltrona e aguardou que o homem sentisse sede. Meia hora depois, lá estava ele, rocando em sua cadeira. 

- É agora - disse Lab desfazendo o efeito da invisibilidade. Ele entrou rapidamente no local onde ficavam as cobaias, tristemente em suas gaiolas, como objetos inanimados e insensíveis, apenas a serviço do homem.

Ele viu ratos, cachorros da raça beagle e coelhos em um estado lamentável, apenas sobrevivendo, em condições desumanas. Um dos coelhos chamou sua atenção.

- É o coelhinho do qual o Igor falou lá no colégio.

Deitado na gaiola, com respiração ofegante e olhar quase sem vida, jazia um ser vivo, que nunca soube o que é ser tratado como tal. Nunca conheceu carinho, amor, respeito. Com lágrimas nos olhos, Lab se aproximou dele. Abriu sua gaiola e o abraçou dizendo:

- Nós vamos cuidar de você, garoto. 

Mas ele não ia perder a oportunidade de libertar todos os animais. Lab era assim. Não deixaria ninguém para trás. E assim, começou a abrir todas as gaiolas.

Pegou seu celular e mandou esta mensagem para um dos santuários onde costumavam levar os animais resgatados por ele e seus amigos aspeiros:

"Preciso que me recebam agora. Estou indo e levando dezenas de vidas".

Roberto Lab Legal promete uma vida feliz às cobaias que salva 

E assim foi feito. Depois de ter todos os animais libertos das gaiolas ele começou a teletransportá-los. Este é um dos poderes deste super herói. Pegando ou tocando o maior número de animais possíveis, ele sumia do laboratório e aparecia no santuário. Foram quase umas dez idas e vindas mas valeram a pena. Os animais foram todos salvos e entregues aos cuidados dos veterinários do santuário e demais cuidadores que lá estavam de plantão naquela noite. Lab só conseguia se teletransportar quando estivesse com animais, em missão de salvamento. E sabia se utilizar muito bem desse dom dado por Zarah. 

Após se despedir de seus amigos do santuário e também dos animaizinhos que acabara de resgatar, ele já estava chamando um uber (seu carro estava na oficina) quando sentiu um vento frio em sua nuca. O local era bem desértico, não havia ninguém nas ruas. E então, ele entendeu.

- Já sei. Zarah.

E então, ela lhe apareceu. Sua expressão era séria, nada amigável. E então ela começou a falar, firme e calmamente:

- Eu venho te observando mais de perto faz um tempo, Roberto. Você não está agindo corretamente. Eu criei os Super Heróis Protetores dos Animais e da Natureza, ou seja lá como vocês queiram abreviar este nome, para que agissem em concordância com as leis dos homens. E infelizmente a sua lei ainda permite que esses testes sejam realizados. Você, como cientista, sabe muito bem disso.

- Mas, Zarah, com todo respeito, foi você que me deu esses poderes, justamente para que eu pudesse resgatar esses animais. Foi por isso que você me escolheu, por saber que tenho conhecimento sobre o assunto e que sempre me posicionei contra essas práticas.

- Sim. Fui eu que te chamei e te dei tais poderes. Mas para serem usados no salvamento de animais que sofrem maus tratos, porque isso sim, é contra a lei. O coelho, por exemplo, é um desses casos. Você agiu certo em livrá-lo dos maus tratos. Mas você sempre acaba libertando todos, até mesmo os que, dentro os padrões legais da sua ciência, não estariam sendo maltratados. Veja, Roberto. Pelo que eu fiquei sabendo, esses testes estão sendo feitos para que uma vacina muito importante seja desenvolvida. E também remédios que serão muito úteis à humanidade. Para o povo do meu planeta, a vida animal é tão importante quanto a vida humana. Infelizmente isso ainda não é assim na Terra. Isso é muito errado e precisa ser modificado. Mas as leis precisam mudar. Porque senão, você estará agindo fora da lei e isso nós não podemos permitir. 

- Mas esse meu movimento é justamente para forçar uma modificação nas leis. Eu desenvolvi uma técnica que poderá substituir o uso, aliás, abuso, de cobaias inocentes. Não será necessário utilizar nenhum ser vivo. E esses testes, pesquisas e experiências terão um resultado muito mais preciso!

- Então apresente seu projeto aos seus colegas cientistas. Prove que ele é eficaz e assim estará agindo de acordo com a lei. Mas o que você fez hoje e vem fazendo...

- Você quer que eu devolva aqueles inocentes para as gaiolas? Você acha que isso não é maus tratos? 

- Não para os padrões primitivos da Terra e suas leis injustas. Mas ainda assim são suas leis.

- Nem toda lei é cumprida nesse planeta. Não vou cumprir uma lei que judia dos animais! E se eles AINDA não estão sofrendo maus tratos, logo acontecerá com eles o que aconteceu com o coelhinho. Você quer que eu fique de braços cruzados esperando isso acontecer pra só depois pensar em salvamento? Eu não vou devolvê-los!

- Não precisa devolver esses, afinal, seria muita maldade com eles. Mas outros...

- Eu vou continuar salvado todos, Zarah. Enquanto isso vou apresentar meu projeto. Mas não vou esperar até lá para resgatar esses animais e forçar mudanças nas leis que tratam disso. Hoje ouvi de um aluno que toda vida importa. Isso é tão óbvio mas infelizmente muitas pessoas parecem não pensar assim! Não vou deixar que outras vidas sejam perdidas enquanto os cientistas e políticos ficam pensando no que fazer...

- Você está certo, Roberto. O problema é que as leis são descumpridas justamente porque muita gente é desonesta no seu planeta. Por isso não cumprem as leis. Não posso admitir um super herói fora da lei! Se você insistir nisso terei que tirar seus poderes, antes que eu mesma seja repreendida por Tharvo!

- Então eu renuncio aos meus poderes, renuncio à ASP. Deixo de ser um SUPRO. E assim volto a agir como agia anos atrás, por minha conta. Era muito mais difícil sem enxergar no escuro e através das coisas, sem poder ficar invisível e sem poder teletransportar os animais. Mas, eu fiz assim por tanto tempo...

- Correndo o sério risco de ser preso...

- Sim. E voltarei a correr esse risco. Pelos animais vale a pena!

- Então, a partir de hoje você não é mais um SUPRO. Você prefere comunicar isso na ASP ou prefere que eu mesma o faça?

- Não será necessário. Eu mesmo faço.

- Está certo. Você tem até amanhã. Descanse hoje e amanhã cumpra seu dever.

Lab, tristonho mas decidido, concordou com um gesto de cabeça e já ia se retirando, quando Zarah o chamou:

- Roberto. Eu não estou contra você. É o seu planeta que está. Ainda.

E assim, ela se foi. Deixando-o pensativo enquanto esperava por seu uber.


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Na ASP todos aguardavam ansiosos por Lab Legal, que convocara uma reunião urgente


No dia seguinte, às 10 hs em ponto, Lab chegava à ASP. Acabara de dar uma aula e teria que retornar ao colégio às 13 hs. Lá estavam todos os seus colegas aspeiros, os amigos com os quais convivera nos últimos três anos. 

No entanto, antes de entrar na sala de reunião, ele cerrou os olhos por força do hábito e percebeu que estava vendo o que acontecia do outro lado da parede. "Será que a Zarah esqueceu de retirar de mim este poder?", pensou ele. Mas, sem dar muita importância a isso, entrou na sala e cumprimentou os colegas, todos com expressões curiosas.

- Pois é, meus amigos. Ontem tive uma ação muito importante. Mais cobaias foram salvas. Eu até te peço desculpas, Ziro. Sei que atrapalhei seu ensaio mas foi necessário. Foi pela última vez. Daqui pra frente sigo sozinho. Zarah me destituiu dos meus poderes de aspeiro. Não sou mais um de vocês.

Entre protestos e expressões surpresas, a grande tela que ficava no meio da sala, na parede em frente aos sofás e poltronas onde estavam os SUPRO, tremeu e brilhou. Era o sinal de que Zarah queria lhes falar.

- Bom dia, meus caros heróis. Bom dia em especial, a você, Roberto Lab Legal. Apresente sua proposta aos cientistas o mais breve possível. Te dou o prazo de três meses. E enquanto isso, você continua sendo um SUPRO. Pode agir à sua maneira e durante esse tempo eu não quero saber de nada a respeito de suas... ações. Afinal, eu não sou desse planeta mesmo. Passem bem e até mais!

E sem esperar perguntas ou respostas ela se foi. Na ASP os queixos caíram e o silêncio reinou absoluto por alguns instantes. Mas depois, Roberto Lab Legal não teve mais sossego! Não parou mais de dar explicações e receber elogios e abraços de apoio até a hora do almoço, no qual todos comeram juntos e satisfeitos numa mesa armada nos jardins da Associação. 


FIM






Asas para Voar!

 

Silvestre Selvagem vende suas bijuterias na praia de Copacabana


Estava Celeste Liberdade na ciclovia, no Rio de Janeiro, aproveitando uma bela manhã de domingo. Ela finalmente resolveu tirar do quartinho da bagunça a bicicleta nova que havia ganho de seus avós no último Natal. 

De repente, um barulho de notificação no seu celular. Calmamente, ela abandonou a ciclovia e, indo para um canto no calçadão, foi olhar o seu whasapp para ver do que se tratava. Uma colega do cursinho, que amava a natureza quase tanto quanto ela própria, a estava avisando sobre uma cena inusitada que havia visto poucos minutos antes na Floresta da Tijuca: próximo a um grupo de pessoas que faziam um piquenique e se divertiam em um certo ponto da floresta próximo a uma trilha pouco frequentada, havia algumas arapucas armadas! Celeste ficou indignada e quando ela fica nervosa, sai de baixo! Ela se atrapalha toda! Na mesma hora ela ligou para Silvestre Selvagem para pedir sua ajuda para resolver este caso. Mas o celular do amigo estava desligado. Então, ela ligou para a ASP e perguntou por ele. Do outro lado, Risonha dos Rios, que estava de plantão naquele dia, respondeu:

- Hoje é dia de folga do Silvestre. Mas dia de folga aqui da ASP, porque ele está trabalhando! Foi vender suas bijuterias na praia de Copacabana!

- Aqui bem perto de onde estou! - gritou Celeste, já desligando o celular, sem dar tempo à colega de perguntar coisa alguma. 

Montando em sua bicicleta ela rumou para Copacabana e começou a procurar pelo colega. Como não conseguia avistá-lo, deixou a bike no quiosque de um conhecido, respirou fundo e... levantou voo! Não estava nem aí para as pessoas que apontavam, aplaudiam, gritavam "vivas" e chamavam por ela (afinal, com poucos meses de ASP ela já era uma Super Protetora bem conhecida, por ser muito atuante na sua causa)! A mais jovem aspeira lembrou-se do local onde o colega de heroísmo costumava ficar quando vendia seus trabalhos artesanais e começou a voar mais baixo e mais devagar, olhando e olhando... Até que se distraiu com a raríssima combinação de cores de uma asa delta que voava próximo a ela e perdeu o equilíbrio de suas asas, ao mesmo tempo que avistava Silvestre. Ela ainda gritou:

- Ei, Silvestre! Curupira! Sou eu, a Cel... - ela não conseguiu completar seu nome quando caiu.

O amigo se assustou ao mesmo tempo em que ela derrubava um guarda-sol bem ao lado da sua barraquinha improvisada. Ele correu para socorrer a amiga, cujas asas sumiam sempre que seus pés tocavam o chão. 

- Cel.. cel... desastre que vem do céu! 

Ele não sabia se ria ou se xingava a amiga. Mas desse dia em diante Celeste ganhou seu apelido entre os SUPRO: Céu. E foi Silvestre quem a "batizou".

- Você precisa vir comigo - foi logo dizendo a jovem, após se desculpar rapidamente com a dona da sombrinha de praia que ela havia derrubado.

- Como assim, você não vê que eu estou trabalhando? Além de não ter aprendido a voar direito você ainda atrapalha o trabalho dos outros?

- Você quer ouvir primeiro o que eu tenho a dizer?

E então ele se calou e ela falou, contou sobre as arapucas. E então foi a vez de Silvestre sair do sério. Ele rapidamente fechou a barraquinha com suas coisas bem na hora que uma freguesa estendia a ele uma nota de 50,00 para pagar um colar que havia acabado de comprar. Ele então voltou-se e esticou a mão para pegar o dinheiro. Mas já era tarde demais! Celeste levantava voo carregando desajeitadamente o amigo com sua bagagem. 

A cena pareceu cômica a quem não sabia exatamente o que estava acontecendo. Silvestre protestou, disse que não podia perder dinheiro assim.

- Não se preocupe, eu te dou os 50,00! Isso é o de menos! Agora, cadê o seu celular? Eu tentei te ligar e estava desligado!

- Ah, eu deixei em casa. Eu ainda não me acostumei com certos hábitos de vocês, homens brancos! Não gosto dessas tecnologias que vocês inventaram...

- Não estou te pedindo pra gostar. Eu estou te cobrando que USE quando necessário. É seu dia de folga como aspeiro, eu sei. Mas nós somos como médicos. Temos que estar atentos a todo momento...

- Eu não acredito que um homem como eu, com quase meio século de vida nas costas vai ficar ouvindo sermão de uma pirralha que mal saiu das fraldas!

- Olha como fala, Curupira! Eu te solto, hein!

- Você não faria isso.

Celeste sorriu. Na verdade, a confiança do amigo a deixava feliz. 

Celeste pousou próximo ao quiosque onde guardara sua bicicleta. Ali, Silvestre deixou sua barraquinha portátil com suas coisas de camelô. Ali na praia todos conheciam o "índio-hippie" como era carinhosamente chamado pelos frequentadores daquela e de outras praias cariocas. 

E lá foram novamente os dois pelos ares, dessa vez "Céu" pegou o amigo com mais cuidado e de maneira menos desajeitada. Silvestre queria ir na sua velha motoca, mas a garota dos pássaros protestou dizendo que "naquela lambreta dos anos 50 vamos chegar lá só à noite!".

 
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Celeste Liberdade entra em ação para salvar os passarinhos da Floresta da Tijuca



Ao aterrissarem na floresta, no local indicado pela colega de Celeste que havia visto a cena, eles viram algumas latas de cerveja e refrigerante jogadas e uma arapuca fechada a cerca de vinte metros de onde, provavelmente o grupo havia estado.

Silvestre recolheu as latas colocando-as em uma sacola que levava consigo e resmungando para si mesmo, referindo-se à colega aspeira Maria Recicla-tudo: "se a Mizuki visse isso ia sair do 'zen' ''. 

Enquanto isso, Celeste corria até a arapuca e libertava o pássaro que ficara preso nela. Ao olhar mais à frente, onde passava a estrada, ela viu um carro estacionado e, desconfiando que fosse do pessoal do piquenique, correu até lá. Silvestre ficou por ali mesmo, procurando próximo a trilha, e então resolveu subir em uma árvore para tentar avistar alguma coisa.

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O carro dos bandidos cheio de gaiolas com pássaros capturados em arapucas

Ao chegar ao carro estacionado, Celeste viu que o bagageiro não estava trancado e ela o abriu. Chocada, viu que havia nele várias gaiolas com pássaros silvestres. Imediatamente, ela começou a retirar uma a uma, as gaiolas de dentro do carro, mas nisso sentiu uma mão tapar sua boca. Quis gritar e não conseguiu. Sentiu um cheiro forte de clorofórmio invadir suas narinas e no mesmo instante perdeu os sentidos. O grupo, que retornava com mais duas gaiolas com pássaros, levou a jovem aspeira para dentro do carro, e deixaram o local com velocidade moderada para não chamar a atenção.

Silvestre, de cima da árvore, viu o que havia acontecido e desceu dela rapidamente. Usando suas habilidades dadas por Zarah, ele subiu em um caminhão que seguia logo atrás do carro que levava Celeste e se escondeu embaixo de uma coberta que havia na carroceria. Ambos os veículos saíram da Floresta da Tijuca. Quando porém, o caminhão tomou um rumo diferente dos raptores, ele saltou rapidamente de sua carroceria e subiu em uma caminhonete que seguia o mesmo caminho do carro. 

"Que falta me faz uma corda e um cipó agora. Apesar de não haverem árvores por aqui..." pensou ele.

De repente, o carro que levava a amiga parou em frente a uma espécie de galpão ou depósito, em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Silvestre saltou da caminhonete e se escondeu atrás de um carro que estava parado mais à frente.

Observou o movimento. Eram três homens e duas mulheres. Apenas o motorista ficou no carro, enquanto os demais, desceram. Um dos homens entrou no galpão por uma porta lateral, o outro foi abrir o portão da garagem. As duas mulheres ficaram por ali vigiando. 

Silvestre, então, se aproximou e, apenas para puxar assunto, perguntou às moças se não era aquele imóvel que estava para alugar. Dentro do carro, Celeste, resistente como era devido aos poderes de Super Protetora, acordava, ainda que meio tonta. Ela olhou pelo vidro e, vendo Silvestre, o Rambo, se preparou, pois sabia que ele iria aprontar alguma. 

Dito e feito. Silvestre, à medida em que conversava com as moças ia se aproximando do carro. Tudo isso aconteceu muito rápido! Como o carro havia sido trancado, ele, de um só golpe arrancou a porta lateral, liberando a amiga, que saltou imediatamente de dentro do carro e levantou voo carregando as duas moças. Atônitos, o motorista e o homem que havia acabado de abrir o portão da garagem começaram a gritar. O homem que havia entrado no galpão, saiu de lá com uma imensa gaiola numa das mãos e um revólver na outra, começando logo a atirar. Mas Silvestre desviou-se facilmente e com um chute certeiro fez a arma voar longe. Ele enlaçou o homem com seus braços e o colocou dentro da gaiola que ele trazia, ao que tudo indica, para aprisionar Celeste. Fez o mesmo com os outros dois e os trancafiou espremidos na gaiola.


As duas mulheres da quadrilha são jogadas por Celeste em uma piscina

Enquanto isso, Celeste largava as duas moças na piscina de uma casa vizinha gritando para o homem que estava na porta da cozinha que não as deixasse escapar até a polícia chegar, pois eram duas bandidas de uma quadrilha que capturava aves silvestres para comercializá-las ilegalmente. Por sorte elas sabiam nadar! Mas logo foram cercadas pelos donos da casa que traziam dois cachorros da raça Rottweiler pela coleira. Retornando ao carro, Celeste pegou todas as gaiolas que havia e imediatamente libertou os pássaros recém capturados. Mas os sustos daquela dia ainda não haviam chegado ao fim.

Ao entrarem no galpão se depararam com uma cena chocante. Havia muitas gaiolas com um número absurdo de pássaros amontoados, pássaros lindos, maltratados, usados como objetos para que a quadrilha de bandidos pudesse faturar, de maneira ilegal, um dinheiro alto, vendendo esses pássaros para pessoas que os queriam como meros objetos de decoração. Ou seja, passariam suas vidas inteiras em gaiolas. E aqueles que não fossem vendidos seriam descartados como lixos, isso se sobrevivessem ao cativeiro e aos maus tratos. Celeste não resistiu e chorou, abraçada ao amigo que tentava consolá-la. Mas Silvestre também estava com os olhos cheios d'água ao ver aquelas pobres aves espremidas em gaiolas, muitas delas já doentes e fracas devido à falta de alimentação adequada, ao desconforto e à sujeira do ambiente.

Enxugando as lágrimas e tomando coragem, Celeste gritou como uma típica heroína de quadrinhos. Lá foi ela, de gaiola em gaiola, curar os pássaros feridos. Em seguida, ela voaria com as gaiolas, fazendo quantas viagens fossem necessárias para levar as aves a um dos santuários ecológicos que colaborava com a ASP. Lá eles seriam muito bem cuidados e reintegrados à natureza no tempo certo. Os que não tivessem mais condições de voar ou de reaprender a buscar alimento por conta própria, ficariam morando no santuário, mas sem gaiolas!

Enquanto Celeste fazia seu trabalho, Silvestre enfiava a gaiola com os homens dentro do carro e em seguida, tomava o volante, dirigindo a toda velocidade em direção à delegacia mais próxima. Ao deixá-los lá, denunciando os crimes cometidos, informou o delegado sobre as duas mulheres que também faziam parte da quadrilha, fornecendo a localização de onde elas haviam sido deixadas por Celeste.

Assim, todos os cinco bandidos ficaram presos e assim, aguardariam para serem julgados por seus crimes. O galpão que servia de depósito das aves capturadas foi interditado pela polícia e os animais, no santuário, passaram a receber os cuidados necessários. 

Celeste encontrou Silvestre na praia. Ele pegou sua maleta-barraca com seus artesanatos e bijuterias e ela pegou sua bicicleta. Seguiram para a ASP - ela de bike, ele de "lambreta" - com a certeza do dever cumprido.


****************

Celeste sonha que está voando com os pássaros em um mundo em que não existem mais gaiolas


Naquele noite de domingo, houve uma rápida comemoração na associação com todos os aspeiros reunidos, enquanto eles viam a notícia no jornal da TV:

"Os Super Heróis Protetores dos Animais e da Natureza fizeram a diferença mais uma vez, agora para um grande número de aves silvestres que viviam em cativeiro em condições degradantes em um depósito da zona norte. Os três homens e as duas mulheres que faziam parte da quadrilha estão presos e os pássaros estão a salvo em um santuário..."

E então, Silvestre desligou a televisão.

- Não vamos nos envaidecer com isso! É bom que a notícia seja dada e que as pessoas sejam informadas sobre o que acontece. Também é bom que possamos dar um bom exemplo, especialmente aos jovens e às crianças. Estamos fazendo a nossa parte e isso é tudo que realmente importa. A luta continua, infelizmente este caso não é o único. Ainda temos muito trabalho pela frente. Vamos nos manter unidos!

- E o com o celular ligado - disse Celeste com um risinho maroto para o amigo.

- Pode deixar, "Céu". Céu azul, celular, Celeste. Assim você não vai precisar mais cair do céu em cima da sombrinha dos outros. 

Em meio as risadas e brincadeiras a dupla salvadora do dia se despediu, indo para suas respectivas casas. Estavam exaustos mas satisfeitos. Ambos dormiram muito bem e sonharam com um mundo onde os pássaros são todos livres e não existem gaiolas, afinal, "as asas existem para voar", disse Celeste dormindo e voando em seu sonho junto com lindos pássaros de todas as cores e espécies.

FIM



Joãozinho e as vaquinhas de Goiás

 

Mizuki faz o almoço na ASP

De plantão na ASP naquele dia, estavam João do Bom Chicote (o Joãozinho), Pet Carinho (a Pet) e a Maria Recicla-tudo (a Mizuki). Esta, como boa cozinheira, preparava o almoço na "cozinha americana" da associação (que era conjugada com a sala principal) e ia explicando aos demais como fazer uma de suas receitas vegetarianas preferidas, quando toca o telefone.

Joãozinho, que estava sentado em uma cadeira, com suas botas de caubói apoiadas na mesinha de centro da sala, se levanta e atende.

- ASP, bom dia! Aqui fala o João do Bom Chicote. Em que podemos ajudar?

Do outro lado da linha, uma denúncia anônima era feita. Ao desligar o telefone, Joãozinho estava indignado e demonstrou sua irritação aos seus amigos aspeiros. Mizuki desligou o fogo e foi até a sala onde estavam Pet e Joãozinho.

- O que foi, Joãozinho, qual é caso? E pra quem é dessa vez?

- É pra mim mesmo - disse ele - e a denúncia vem lá da minha terra, Goiás! Uma cidade vizinha à cidade onde moram os meus pais, e onde fui criado! Um fazendeiro de gado leiteiro foi à falência e vendeu sua fazenda pra um empresário que está construindo um hotel enorme, com clube, piscinas, quadras esportivas e um monte de coisas. Mas ele ainda tinha algumas vacas na propriedade. O comprador exigiu que ele as tirasse de lá! Então, o fazendeiro falido buscou as vacas em um caminhão e sem ter coragem de matá-las e sem tempo para vendê-las, as abandonou à própria sorte em um local deserto, cerca de 20 quilômetros da fazenda. Já faz dias que isso aconteceu, mas só agora descobriram. As vaquinhas estão lá no deserto, no sol, na chuva, sem água, sem comida... Eu vou lá agora mesmo resolver isso. O meu chicote vai dar um jeito nesse fazendeiro desalmado!

Pet Carinho, vendo a irritação do seu jovem colega, tentou acalmá-lo:

- Calma, Joãozinho. Não aja por impulso. Pense com calma na melhor maneira de resolver isso.

- Não posso perder tempo, Pet. As vacas estão sofrendo. Preciso ir pra lá voando! Mas vai ser difícil conseguir um voo agora. Epa, vai ser difícil voar de avião, mas tem o seu tapete voador. E se você me levar lá...

- Mas eu não posso deixar a Mizuki sozinha no plantão - explicou a protetora dos animais familiares.

Mizuki então teve uma ideia.

- Temos outros voadores aqui. A Celeste foi visitar a mãe no sul, mas...

- Isso mesmo, Mizuki - interrompeu Joãozinho, aflito - tem a dupla "Z-Z".

- O que é isso, dupla "Z-Z"? - perguntou Pet.

- Zeca e Ziro - respondeu João se referindo a Zeca Ar Puro e Ziro Porteira Aberta, os dois SUPRO voadores com capa bem ao estilo dos super-heróis clássicos.

- O Ziro está no circo, Joãozinho. Ele hoje vai voar, mas no trapézio - contou Pet Carinho.

- Então resta o Zeca - disse Mizuki.

- O Zeca deve estar em casa, aqui mesmo no Recanto. Vai lá e pede pra ele te levar! 

- Vou mesmo, Pet. Vou fazer isso agora!

E assim, ele se retirou apressado, indo em direção à casa do amigo e colega de causa, Zeca Ar Puro.


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Essa é uma missão para João do Bom Chicote

Zeca, assim que ouviu a história contada por João, vestiu seu uniforme de herói e ganhou os ares carregando o jovem caubói nos braços. Seguindo as instruções dadas ao telefone pelo denunciante anônimo, eles não demoraram muito a chegar ao local.

E lá estavam elas, as vacas abandonadas pelo fazendeiro falido. O sol estava forte e não havia uma gota d'água no local desértico. As vacas estavam magras e com muita sede. Se elas continuassem ali, certamente iriam morrer, devido à exposição ao sol, à desidratação, e à desnutrição.


As vaquinhas abandonadas pela maldade humana


Zeca pousou, colocando Joãozinho no chão. Este se aproximou das vacas, uma a uma, examinando-as com cuidado (Joãozinho também é veterinário), e em seguida tocou em cada uma delas com o cabo do seu chicote, fazendo com que elas se sentissem bem imediatamente, como se não estivessem com fome, sede ou calor. 

Em seguida, se aproximou de Zeca, dizendo:

- Vamos agora procurar o maldito fazendeiro!

- Você tem alguma pista do paradeiro dele? - perguntou o colega despoluidor dos ares.

- Na denúncia me disseram que ele mora por aqui mesmo. Me deram o endereço. Ele comprou um apartamento no centro da cidade.

E então, ele tirou do bolso um pedacinho de papel onde havia anotado o endereço do fazendeiro e mostrou-o ao amigo.

- Ótimo - disse Zeca sem querer perder tempo - Vamos pegar o homem!


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A chicotada paralisante de João é sempre seguida de um sermão

Assim que encontraram o endereço, desceram ali e ficaram parados em frente ao prédio. Algumas pessoas que passavam na rua naquele momento olharam, curiosas. Uma criança apontou, mostrando à sua mãe:

- Olha, mamãe, são os Super Protetores dos Animais!

A mulher olhou, surpresa e pensou: "O que será que vieram fazer aqui? Alguém deve ter feito alguma maldade com os animais, pelo jeito!" 

O garotinho soltou-se da mão da mãe e correu até seus heróis. Ele pegou lápis e caderno na sua mochila e pediu autógrafo à João e Zeca que, prontamente, o atenderam. A mãe se aproximou, se desculpando, mas o menino pediu:

- Mãe, pega seu celular e tira uma foto minha com eles?

Todos concordaram e assim foi feito. Na foto, surgiu o garotinho, sorridente, entre dois de seus grandes ídolos! 

Mas nesse exato momento um carro parou em frente ao prédio. Um homem de chapéu desceu, apressado. Ele olhou na direção dos heróis, que conversavam com uma criança e uma mulher. 

Percebendo que se tratava dos SUPRO, ele se apressou em direção à garagem.

Foi Zeca quem viu primeiro.

- Olha ele lá, Joãozinho!

Sem pedir licença ao garotinho e sua mãe, o jovem caubói saiu correndo e pulou na frente do homem, que, desajeitadamente, tentava abrir o portão da garagem do prédio em que morava.

- Pode parar aí, seu Altair! - disse Joãozinho se lembrando do nome que foi revelado na denúncia.

- Ora, saia da minha frente, moleque! Eu não tenho nada pra falar com você!

Zeca se aproximou, voando e aterrissou ao lado deles. A mãe e o garotinho, juntamente com mais algumas pessoas que passavam na rua, ficaram parados, vendo a cena, admirados.

- Eu sei que vocês são os tais Super Protetores - berrou o homem - Mas eu não tenho medo de vocês!

João continuou firme, encarando-o.

- Ah, mas você deveria ter medo do meu chicote. Olha ele aqui. Estou sempre com ele. É um chicote do bem, muito meu amigo, sabe?

- Me deixem em paz! - disse o fazendeiro Altair.

E então, diante dos olhares dos curiosos, João deu uma leve chicotada nas pernas do fazendeiro - que imediatamente ficou paralisado - e começou o seu sermão dizendo:

- Você vai pegar aquelas vacas agora mesmo, usando o mesmo caminhão com o qual as levou covardemente até aquele deserto para morrerem de fome, sede e insolação! Depois, vai colocá-las exatamente no mesmo local de onde as tirou. Eu vou ter uma conversa com o homem que comprou sua fazenda. E o curral das vacas com abrigo, comedouros e mais um parte do pasto ficará fora da negociação. O prejuízo será muito menor do que a multa por maus tratos que ambos terão que pagar se eu denunciá-los à polícia. Então a única escolha inteligente é aceitar o que eu estou propondo, aliás, impondo. Maus tratos aos animais é crime e dá cadeia! Um ser humano que faz a maldade que você fez a seres puros e inocentes como esses animais merece mesmo é apodrecer na cadeia! Mas estou lhe dando a última chance. Não queira ver o meu chicote de novo!

Dito isto, João "descongelou" o senhor Altair, dando-lhe uma segunda chicotada. O homem, ainda aturdido, acatou as ordens do rapaz e juntamente com ele e Zeca Ar Puro, pegou o caminhão e foi buscar as vacas no local onde as havia abandonado dias antes.

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O comprador da fazenda admira a construção de seu hotel


Ao chegarem na fazenda, viram seu novo dono à toda com as obras da construção do hotel. Ao ver o caminhão chegando com as mesmas vacas que ele já conhecia bem e que, dias atrás, havia exigido que fossem retiradas do local, a princípio, tentou impedir que elas retornassem.

- O que significa isso? - perguntou ele, meio nervoso.

Foi Joãozinho quem respondeu, com uma pergunta:

- Você vai querer ouvir o que eu tenho pra lhe dizer com chicotada ou sem chicotada?

- Que palhaçada é essa, caubóizinho? E quem é esse aí fantasiado de Super Homem?

Essa Zeca Ar Puro não deixou passar. Aproximando-se do homem do hotel foi logo fazendo um convite:

- Não sou Super Homem e isso não é fantasia! Posso te provar isso! É só você dar um passeio comigo. Posso sobrevoar mares e rios e, se você quiser, posso te soltar lá de cima no lugar de sua preferência!

O homem viu que Zeca não estava brincando, e Joãozinho muito menos!

- O que é que vocês querem?

E então, João falou. O chicote não foi necessário dessa vez. A proposta foi ouvida e aceita com mais facilidade por Alexandre Spina, o comprador da fazenda e dono da grande obra que estava em andamento. Ele, mais calmo, explicou:

- As vacas ficaram aqui por um bom tempo depois que eu comprei esta fazenda. Meus empregados cuidavam delas. Havia um acordo entre seu Altair e eu. Mas o prazo chegou ao fim e ele teria que levar as vacas. Ele ficou adiando, adiando, até que exigi que ele as viesse buscar. Mas nunca imaginei que ele fosse abandoná-las no deserto. Eu não sou a favor de maus tratos com os animais! Você não precisará usar seu chicote comigo, rapazinho. A parte da fazenda que você reivindica para as vacas ficarem é muito pequena pra que eu procure encrenca com você e a sua turma aí. O curral e esse pasto que você quer não vão me fazer falta! E mesmo que fizessem, eu acho a sua proposta justa. Podem levar as vacas para o abrigo delas. Elas serão muito bem cuidadas, bem alimentadas e terão um bom espaço em que ficarão livres. Serão bichos de estimação e vão morrer de velhas.

Joãozinho, meio que duvidando do homem, prescreveu alguns remédios e vitaminas para que ele comprasse e desse às vacas e, entregando-lhe a receita, alertou:

- É bom mesmo, porque senão eu volto e dessa vez o meu chicote vai cantar no seu lombo, hein!

- Não vai ser preciso, garoto! Você pode vir aqui quantas vezes quiser, pode chegar de surpresa e vai ver que eu estou cumprindo a promessa. Sou um homem de palavra!

- Ele está falando sério, Joãozinho - disse Zeca, conciliador. - E pode deixar que de vez em quando eu venho dar umas "voadas" por aqui e te mantenho informado. 

- Está bem então - concordou João do Bom Chicote. Ele e Zeca se despediram de Alexandre com um aperto de mãos. 

Altair desceu as vacas do caminhão e as conduziu ao seu antigo abrigo, onde elas voltariam a viver. Depois disso, foi embora satisfeito por ter se livrado de um grande problema e refletindo sobre a lição aprendida naquele dia. Ele não era um mau homem. Mas a falência o havia tornado um tanto frio. No fundo, ele estava arrependido do que fizera às vaquinhas e se tranquilizou com o fato de que elas voltariam a ter uma vida tranquila e feliz. Na verdade, agora, seriam mais felizes do que nunca, uma vez que não seriam mais exploradas e não correriam risco de serem vendidas para o abate.


As vaquinhas finalmente retornaram ao seu abrigo, com todo conforto


Zeca pegou novamente Joãozinho nos braços, levando-o de volta ao Rio de Janeiro, e deixando-o na ASP, onde ele contaria as notícias às aspeiras que lá o aguardavam, Pet Carinho e Mizuki, também conhecida como Maria Recicla-tudo. 

A doce "japonesa" esquentou no micro-ondas a comida que fizera e Zeca também acabou almoçando por lá, enquanto os quatro conversavam sobre o acontecido e os rapazes narravam um fato curioso: ao sobrevoarem o curral, eles viram as vacas bebendo água e comendo, com um rapaz simpático a tratá-las com o carinho por elas merecido. Com a alegria do dever cumprido, eles ouviram alguns "MÚ" bem alegres! Os animais também sentem gratidão. E esse era o tom do mugido daquelas vaquinhas, que finalmente viveriam em paz!

FIM