Mizuki faz o almoço na ASP
De plantão na ASP naquele dia, estavam João do Bom Chicote (o Joãozinho), Pet Carinho (a Pet) e a Maria Recicla-tudo (a Mizuki). Esta, como boa cozinheira, preparava o almoço na "cozinha americana" da associação (que era conjugada com a sala principal) e ia explicando aos demais como fazer uma de suas receitas vegetarianas preferidas, quando toca o telefone.
Joãozinho, que estava sentado em uma cadeira, com suas botas de caubói apoiadas na mesinha de centro da sala, se levanta e atende.
- ASP, bom dia! Aqui fala o João do Bom Chicote. Em que podemos ajudar?
Do outro lado da linha, uma denúncia anônima era feita. Ao desligar o telefone, Joãozinho estava indignado e demonstrou sua irritação aos seus amigos aspeiros. Mizuki desligou o fogo e foi até a sala onde estavam Pet e Joãozinho.
- O que foi, Joãozinho, qual é caso? E pra quem é dessa vez?
- É pra mim mesmo - disse ele - e a denúncia vem lá da minha terra, Goiás! Uma cidade vizinha à cidade onde moram os meus pais, e onde fui criado! Um fazendeiro de gado leiteiro foi à falência e vendeu sua fazenda pra um empresário que está construindo um hotel enorme, com clube, piscinas, quadras esportivas e um monte de coisas. Mas ele ainda tinha algumas vacas na propriedade. O comprador exigiu que ele as tirasse de lá! Então, o fazendeiro falido buscou as vacas em um caminhão e sem ter coragem de matá-las e sem tempo para vendê-las, as abandonou à própria sorte em um local deserto, cerca de 20 quilômetros da fazenda. Já faz dias que isso aconteceu, mas só agora descobriram. As vaquinhas estão lá no deserto, no sol, na chuva, sem água, sem comida... Eu vou lá agora mesmo resolver isso. O meu chicote vai dar um jeito nesse fazendeiro desalmado!
Pet Carinho, vendo a irritação do seu jovem colega, tentou acalmá-lo:
- Calma, Joãozinho. Não aja por impulso. Pense com calma na melhor maneira de resolver isso.
- Não posso perder tempo, Pet. As vacas estão sofrendo. Preciso ir pra lá voando! Mas vai ser difícil conseguir um voo agora. Epa, vai ser difícil voar de avião, mas tem o seu tapete voador. E se você me levar lá...
- Mas eu não posso deixar a Mizuki sozinha no plantão - explicou a protetora dos animais familiares.
Mizuki então teve uma ideia.
- Temos outros voadores aqui. A Celeste foi visitar a mãe no sul, mas...
- Isso mesmo, Mizuki - interrompeu Joãozinho, aflito - tem a dupla "Z-Z".
- O que é isso, dupla "Z-Z"? - perguntou Pet.
- Zeca e Ziro - respondeu João se referindo a Zeca Ar Puro e Ziro Porteira Aberta, os dois SUPRO voadores com capa bem ao estilo dos super-heróis clássicos.
- O Ziro está no circo, Joãozinho. Ele hoje vai voar, mas no trapézio - contou Pet Carinho.
- Então resta o Zeca - disse Mizuki.
- O Zeca deve estar em casa, aqui mesmo no Recanto. Vai lá e pede pra ele te levar!
- Vou mesmo, Pet. Vou fazer isso agora!
E assim, ele se retirou apressado, indo em direção à casa do amigo e colega de causa, Zeca Ar Puro.
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Essa é uma missão para João do Bom Chicote
Zeca, assim que ouviu a história contada por João, vestiu seu uniforme de herói e ganhou os ares carregando o jovem caubói nos braços. Seguindo as instruções dadas ao telefone pelo denunciante anônimo, eles não demoraram muito a chegar ao local.
E lá estavam elas, as vacas abandonadas pelo fazendeiro falido. O sol estava forte e não havia uma gota d'água no local desértico. As vacas estavam magras e com muita sede. Se elas continuassem ali, certamente iriam morrer, devido à exposição ao sol, à desidratação, e à desnutrição.
Em seguida, se aproximou de Zeca, dizendo:
- Vamos agora procurar o maldito fazendeiro!
- Você tem alguma pista do paradeiro dele? - perguntou o colega despoluidor dos ares.
- Na denúncia me disseram que ele mora por aqui mesmo. Me deram o endereço. Ele comprou um apartamento no centro da cidade.
E então, ele tirou do bolso um pedacinho de papel onde havia anotado o endereço do fazendeiro e mostrou-o ao amigo.
- Ótimo - disse Zeca sem querer perder tempo - Vamos pegar o homem!
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Assim que encontraram o endereço, desceram ali e ficaram parados em frente ao prédio. Algumas pessoas que passavam na rua naquele momento olharam, curiosas. Uma criança apontou, mostrando à sua mãe:
- Olha, mamãe, são os Super Protetores dos Animais!
A mulher olhou, surpresa e pensou: "O que será que vieram fazer aqui? Alguém deve ter feito alguma maldade com os animais, pelo jeito!"
O garotinho soltou-se da mão da mãe e correu até seus heróis. Ele pegou lápis e caderno na sua mochila e pediu autógrafo à João e Zeca que, prontamente, o atenderam. A mãe se aproximou, se desculpando, mas o menino pediu:
- Mãe, pega seu celular e tira uma foto minha com eles?
Todos concordaram e assim foi feito. Na foto, surgiu o garotinho, sorridente, entre dois de seus grandes ídolos!
Mas nesse exato momento um carro parou em frente ao prédio. Um homem de chapéu desceu, apressado. Ele olhou na direção dos heróis, que conversavam com uma criança e uma mulher.
Percebendo que se tratava dos SUPRO, ele se apressou em direção à garagem.
Foi Zeca quem viu primeiro.
- Olha ele lá, Joãozinho!
Sem pedir licença ao garotinho e sua mãe, o jovem caubói saiu correndo e pulou na frente do homem, que, desajeitadamente, tentava abrir o portão da garagem do prédio em que morava.
- Pode parar aí, seu Altair! - disse Joãozinho se lembrando do nome que foi revelado na denúncia.
- Ora, saia da minha frente, moleque! Eu não tenho nada pra falar com você!
Zeca se aproximou, voando e aterrissou ao lado deles. A mãe e o garotinho, juntamente com mais algumas pessoas que passavam na rua, ficaram parados, vendo a cena, admirados.
- Eu sei que vocês são os tais Super Protetores - berrou o homem - Mas eu não tenho medo de vocês!
João continuou firme, encarando-o.
- Ah, mas você deveria ter medo do meu chicote. Olha ele aqui. Estou sempre com ele. É um chicote do bem, muito meu amigo, sabe?
- Me deixem em paz! - disse o fazendeiro Altair.
E então, diante dos olhares dos curiosos, João deu uma leve chicotada nas pernas do fazendeiro - que imediatamente ficou paralisado - e começou o seu sermão dizendo:
- Você vai pegar aquelas vacas agora mesmo, usando o mesmo caminhão com o qual as levou covardemente até aquele deserto para morrerem de fome, sede e insolação! Depois, vai colocá-las exatamente no mesmo local de onde as tirou. Eu vou ter uma conversa com o homem que comprou sua fazenda. E o curral das vacas com abrigo, comedouros e mais um parte do pasto ficará fora da negociação. O prejuízo será muito menor do que a multa por maus tratos que ambos terão que pagar se eu denunciá-los à polícia. Então a única escolha inteligente é aceitar o que eu estou propondo, aliás, impondo. Maus tratos aos animais é crime e dá cadeia! Um ser humano que faz a maldade que você fez a seres puros e inocentes como esses animais merece mesmo é apodrecer na cadeia! Mas estou lhe dando a última chance. Não queira ver o meu chicote de novo!
Dito isto, João "descongelou" o senhor Altair, dando-lhe uma segunda chicotada. O homem, ainda aturdido, acatou as ordens do rapaz e juntamente com ele e Zeca Ar Puro, pegou o caminhão e foi buscar as vacas no local onde as havia abandonado dias antes.
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Ao chegarem na fazenda, viram seu novo dono à toda com as obras da construção do hotel. Ao ver o caminhão chegando com as mesmas vacas que ele já conhecia bem e que, dias atrás, havia exigido que fossem retiradas do local, a princípio, tentou impedir que elas retornassem.
- O que significa isso? - perguntou ele, meio nervoso.
Foi Joãozinho quem respondeu, com uma pergunta:
- Você vai querer ouvir o que eu tenho pra lhe dizer com chicotada ou sem chicotada?
- Que palhaçada é essa, caubóizinho? E quem é esse aí fantasiado de Super Homem?
Essa Zeca Ar Puro não deixou passar. Aproximando-se do homem do hotel foi logo fazendo um convite:
- Não sou Super Homem e isso não é fantasia! Posso te provar isso! É só você dar um passeio comigo. Posso sobrevoar mares e rios e, se você quiser, posso te soltar lá de cima no lugar de sua preferência!
O homem viu que Zeca não estava brincando, e Joãozinho muito menos!
- O que é que vocês querem?
E então, João falou. O chicote não foi necessário dessa vez. A proposta foi ouvida e aceita com mais facilidade por Alexandre Spina, o comprador da fazenda e dono da grande obra que estava em andamento. Ele, mais calmo, explicou:
- As vacas ficaram aqui por um bom tempo depois que eu comprei esta fazenda. Meus empregados cuidavam delas. Havia um acordo entre seu Altair e eu. Mas o prazo chegou ao fim e ele teria que levar as vacas. Ele ficou adiando, adiando, até que exigi que ele as viesse buscar. Mas nunca imaginei que ele fosse abandoná-las no deserto. Eu não sou a favor de maus tratos com os animais! Você não precisará usar seu chicote comigo, rapazinho. A parte da fazenda que você reivindica para as vacas ficarem é muito pequena pra que eu procure encrenca com você e a sua turma aí. O curral e esse pasto que você quer não vão me fazer falta! E mesmo que fizessem, eu acho a sua proposta justa. Podem levar as vacas para o abrigo delas. Elas serão muito bem cuidadas, bem alimentadas e terão um bom espaço em que ficarão livres. Serão bichos de estimação e vão morrer de velhas.
Joãozinho, meio que duvidando do homem, prescreveu alguns remédios e vitaminas para que ele comprasse e desse às vacas e, entregando-lhe a receita, alertou:
- É bom mesmo, porque senão eu volto e dessa vez o meu chicote vai cantar no seu lombo, hein!
- Não vai ser preciso, garoto! Você pode vir aqui quantas vezes quiser, pode chegar de surpresa e vai ver que eu estou cumprindo a promessa. Sou um homem de palavra!
- Ele está falando sério, Joãozinho - disse Zeca, conciliador. - E pode deixar que de vez em quando eu venho dar umas "voadas" por aqui e te mantenho informado.
- Está bem então - concordou João do Bom Chicote. Ele e Zeca se despediram de Alexandre com um aperto de mãos.
Altair desceu as vacas do caminhão e as conduziu ao seu antigo abrigo, onde elas voltariam a viver. Depois disso, foi embora satisfeito por ter se livrado de um grande problema e refletindo sobre a lição aprendida naquele dia. Ele não era um mau homem. Mas a falência o havia tornado um tanto frio. No fundo, ele estava arrependido do que fizera às vaquinhas e se tranquilizou com o fato de que elas voltariam a ter uma vida tranquila e feliz. Na verdade, agora, seriam mais felizes do que nunca, uma vez que não seriam mais exploradas e não correriam risco de serem vendidas para o abate.
Zeca pegou novamente Joãozinho nos braços, levando-o de volta ao Rio de Janeiro, e deixando-o na ASP, onde ele contaria as notícias às aspeiras que lá o aguardavam, Pet Carinho e Mizuki, também conhecida como Maria Recicla-tudo.
A doce "japonesa" esquentou no micro-ondas a comida que fizera e Zeca também acabou almoçando por lá, enquanto os quatro conversavam sobre o acontecido e os rapazes narravam um fato curioso: ao sobrevoarem o curral, eles viram as vacas bebendo água e comendo, com um rapaz simpático a tratá-las com o carinho por elas merecido. Com a alegria do dever cumprido, eles ouviram alguns "MÚ" bem alegres! Os animais também sentem gratidão. E esse era o tom do mugido daquelas vaquinhas, que finalmente viveriam em paz!
FIM
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