Asas para Voar!

 

Silvestre Selvagem vende suas bijuterias na praia de Copacabana


Estava Celeste Liberdade na ciclovia, no Rio de Janeiro, aproveitando uma bela manhã de domingo. Ela finalmente resolveu tirar do quartinho da bagunça a bicicleta nova que havia ganho de seus avós no último Natal. 

De repente, um barulho de notificação no seu celular. Calmamente, ela abandonou a ciclovia e, indo para um canto no calçadão, foi olhar o seu whasapp para ver do que se tratava. Uma colega do cursinho, que amava a natureza quase tanto quanto ela própria, a estava avisando sobre uma cena inusitada que havia visto poucos minutos antes na Floresta da Tijuca: próximo a um grupo de pessoas que faziam um piquenique e se divertiam em um certo ponto da floresta próximo a uma trilha pouco frequentada, havia algumas arapucas armadas! Celeste ficou indignada e quando ela fica nervosa, sai de baixo! Ela se atrapalha toda! Na mesma hora ela ligou para Silvestre Selvagem para pedir sua ajuda para resolver este caso. Mas o celular do amigo estava desligado. Então, ela ligou para a ASP e perguntou por ele. Do outro lado, Risonha dos Rios, que estava de plantão naquele dia, respondeu:

- Hoje é dia de folga do Silvestre. Mas dia de folga aqui da ASP, porque ele está trabalhando! Foi vender suas bijuterias na praia de Copacabana!

- Aqui bem perto de onde estou! - gritou Celeste, já desligando o celular, sem dar tempo à colega de perguntar coisa alguma. 

Montando em sua bicicleta ela rumou para Copacabana e começou a procurar pelo colega. Como não conseguia avistá-lo, deixou a bike no quiosque de um conhecido, respirou fundo e... levantou voo! Não estava nem aí para as pessoas que apontavam, aplaudiam, gritavam "vivas" e chamavam por ela (afinal, com poucos meses de ASP ela já era uma Super Protetora bem conhecida, por ser muito atuante na sua causa)! A mais jovem aspeira lembrou-se do local onde o colega de heroísmo costumava ficar quando vendia seus trabalhos artesanais e começou a voar mais baixo e mais devagar, olhando e olhando... Até que se distraiu com a raríssima combinação de cores de uma asa delta que voava próximo a ela e perdeu o equilíbrio de suas asas, ao mesmo tempo que avistava Silvestre. Ela ainda gritou:

- Ei, Silvestre! Curupira! Sou eu, a Cel... - ela não conseguiu completar seu nome quando caiu.

O amigo se assustou ao mesmo tempo em que ela derrubava um guarda-sol bem ao lado da sua barraquinha improvisada. Ele correu para socorrer a amiga, cujas asas sumiam sempre que seus pés tocavam o chão. 

- Cel.. cel... desastre que vem do céu! 

Ele não sabia se ria ou se xingava a amiga. Mas desse dia em diante Celeste ganhou seu apelido entre os SUPRO: Céu. E foi Silvestre quem a "batizou".

- Você precisa vir comigo - foi logo dizendo a jovem, após se desculpar rapidamente com a dona da sombrinha de praia que ela havia derrubado.

- Como assim, você não vê que eu estou trabalhando? Além de não ter aprendido a voar direito você ainda atrapalha o trabalho dos outros?

- Você quer ouvir primeiro o que eu tenho a dizer?

E então ele se calou e ela falou, contou sobre as arapucas. E então foi a vez de Silvestre sair do sério. Ele rapidamente fechou a barraquinha com suas coisas bem na hora que uma freguesa estendia a ele uma nota de 50,00 para pagar um colar que havia acabado de comprar. Ele então voltou-se e esticou a mão para pegar o dinheiro. Mas já era tarde demais! Celeste levantava voo carregando desajeitadamente o amigo com sua bagagem. 

A cena pareceu cômica a quem não sabia exatamente o que estava acontecendo. Silvestre protestou, disse que não podia perder dinheiro assim.

- Não se preocupe, eu te dou os 50,00! Isso é o de menos! Agora, cadê o seu celular? Eu tentei te ligar e estava desligado!

- Ah, eu deixei em casa. Eu ainda não me acostumei com certos hábitos de vocês, homens brancos! Não gosto dessas tecnologias que vocês inventaram...

- Não estou te pedindo pra gostar. Eu estou te cobrando que USE quando necessário. É seu dia de folga como aspeiro, eu sei. Mas nós somos como médicos. Temos que estar atentos a todo momento...

- Eu não acredito que um homem como eu, com quase meio século de vida nas costas vai ficar ouvindo sermão de uma pirralha que mal saiu das fraldas!

- Olha como fala, Curupira! Eu te solto, hein!

- Você não faria isso.

Celeste sorriu. Na verdade, a confiança do amigo a deixava feliz. 

Celeste pousou próximo ao quiosque onde guardara sua bicicleta. Ali, Silvestre deixou sua barraquinha portátil com suas coisas de camelô. Ali na praia todos conheciam o "índio-hippie" como era carinhosamente chamado pelos frequentadores daquela e de outras praias cariocas. 

E lá foram novamente os dois pelos ares, dessa vez "Céu" pegou o amigo com mais cuidado e de maneira menos desajeitada. Silvestre queria ir na sua velha motoca, mas a garota dos pássaros protestou dizendo que "naquela lambreta dos anos 50 vamos chegar lá só à noite!".

 
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Celeste Liberdade entra em ação para salvar os passarinhos da Floresta da Tijuca



Ao aterrissarem na floresta, no local indicado pela colega de Celeste que havia visto a cena, eles viram algumas latas de cerveja e refrigerante jogadas e uma arapuca fechada a cerca de vinte metros de onde, provavelmente o grupo havia estado.

Silvestre recolheu as latas colocando-as em uma sacola que levava consigo e resmungando para si mesmo, referindo-se à colega aspeira Maria Recicla-tudo: "se a Mizuki visse isso ia sair do 'zen' ''. 

Enquanto isso, Celeste corria até a arapuca e libertava o pássaro que ficara preso nela. Ao olhar mais à frente, onde passava a estrada, ela viu um carro estacionado e, desconfiando que fosse do pessoal do piquenique, correu até lá. Silvestre ficou por ali mesmo, procurando próximo a trilha, e então resolveu subir em uma árvore para tentar avistar alguma coisa.

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O carro dos bandidos cheio de gaiolas com pássaros capturados em arapucas

Ao chegar ao carro estacionado, Celeste viu que o bagageiro não estava trancado e ela o abriu. Chocada, viu que havia nele várias gaiolas com pássaros silvestres. Imediatamente, ela começou a retirar uma a uma, as gaiolas de dentro do carro, mas nisso sentiu uma mão tapar sua boca. Quis gritar e não conseguiu. Sentiu um cheiro forte de clorofórmio invadir suas narinas e no mesmo instante perdeu os sentidos. O grupo, que retornava com mais duas gaiolas com pássaros, levou a jovem aspeira para dentro do carro, e deixaram o local com velocidade moderada para não chamar a atenção.

Silvestre, de cima da árvore, viu o que havia acontecido e desceu dela rapidamente. Usando suas habilidades dadas por Zarah, ele subiu em um caminhão que seguia logo atrás do carro que levava Celeste e se escondeu embaixo de uma coberta que havia na carroceria. Ambos os veículos saíram da Floresta da Tijuca. Quando porém, o caminhão tomou um rumo diferente dos raptores, ele saltou rapidamente de sua carroceria e subiu em uma caminhonete que seguia o mesmo caminho do carro. 

"Que falta me faz uma corda e um cipó agora. Apesar de não haverem árvores por aqui..." pensou ele.

De repente, o carro que levava a amiga parou em frente a uma espécie de galpão ou depósito, em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Silvestre saltou da caminhonete e se escondeu atrás de um carro que estava parado mais à frente.

Observou o movimento. Eram três homens e duas mulheres. Apenas o motorista ficou no carro, enquanto os demais, desceram. Um dos homens entrou no galpão por uma porta lateral, o outro foi abrir o portão da garagem. As duas mulheres ficaram por ali vigiando. 

Silvestre, então, se aproximou e, apenas para puxar assunto, perguntou às moças se não era aquele imóvel que estava para alugar. Dentro do carro, Celeste, resistente como era devido aos poderes de Super Protetora, acordava, ainda que meio tonta. Ela olhou pelo vidro e, vendo Silvestre, o Rambo, se preparou, pois sabia que ele iria aprontar alguma. 

Dito e feito. Silvestre, à medida em que conversava com as moças ia se aproximando do carro. Tudo isso aconteceu muito rápido! Como o carro havia sido trancado, ele, de um só golpe arrancou a porta lateral, liberando a amiga, que saltou imediatamente de dentro do carro e levantou voo carregando as duas moças. Atônitos, o motorista e o homem que havia acabado de abrir o portão da garagem começaram a gritar. O homem que havia entrado no galpão, saiu de lá com uma imensa gaiola numa das mãos e um revólver na outra, começando logo a atirar. Mas Silvestre desviou-se facilmente e com um chute certeiro fez a arma voar longe. Ele enlaçou o homem com seus braços e o colocou dentro da gaiola que ele trazia, ao que tudo indica, para aprisionar Celeste. Fez o mesmo com os outros dois e os trancafiou espremidos na gaiola.


As duas mulheres da quadrilha são jogadas por Celeste em uma piscina

Enquanto isso, Celeste largava as duas moças na piscina de uma casa vizinha gritando para o homem que estava na porta da cozinha que não as deixasse escapar até a polícia chegar, pois eram duas bandidas de uma quadrilha que capturava aves silvestres para comercializá-las ilegalmente. Por sorte elas sabiam nadar! Mas logo foram cercadas pelos donos da casa que traziam dois cachorros da raça Rottweiler pela coleira. Retornando ao carro, Celeste pegou todas as gaiolas que havia e imediatamente libertou os pássaros recém capturados. Mas os sustos daquela dia ainda não haviam chegado ao fim.

Ao entrarem no galpão se depararam com uma cena chocante. Havia muitas gaiolas com um número absurdo de pássaros amontoados, pássaros lindos, maltratados, usados como objetos para que a quadrilha de bandidos pudesse faturar, de maneira ilegal, um dinheiro alto, vendendo esses pássaros para pessoas que os queriam como meros objetos de decoração. Ou seja, passariam suas vidas inteiras em gaiolas. E aqueles que não fossem vendidos seriam descartados como lixos, isso se sobrevivessem ao cativeiro e aos maus tratos. Celeste não resistiu e chorou, abraçada ao amigo que tentava consolá-la. Mas Silvestre também estava com os olhos cheios d'água ao ver aquelas pobres aves espremidas em gaiolas, muitas delas já doentes e fracas devido à falta de alimentação adequada, ao desconforto e à sujeira do ambiente.

Enxugando as lágrimas e tomando coragem, Celeste gritou como uma típica heroína de quadrinhos. Lá foi ela, de gaiola em gaiola, curar os pássaros feridos. Em seguida, ela voaria com as gaiolas, fazendo quantas viagens fossem necessárias para levar as aves a um dos santuários ecológicos que colaborava com a ASP. Lá eles seriam muito bem cuidados e reintegrados à natureza no tempo certo. Os que não tivessem mais condições de voar ou de reaprender a buscar alimento por conta própria, ficariam morando no santuário, mas sem gaiolas!

Enquanto Celeste fazia seu trabalho, Silvestre enfiava a gaiola com os homens dentro do carro e em seguida, tomava o volante, dirigindo a toda velocidade em direção à delegacia mais próxima. Ao deixá-los lá, denunciando os crimes cometidos, informou o delegado sobre as duas mulheres que também faziam parte da quadrilha, fornecendo a localização de onde elas haviam sido deixadas por Celeste.

Assim, todos os cinco bandidos ficaram presos e assim, aguardariam para serem julgados por seus crimes. O galpão que servia de depósito das aves capturadas foi interditado pela polícia e os animais, no santuário, passaram a receber os cuidados necessários. 

Celeste encontrou Silvestre na praia. Ele pegou sua maleta-barraca com seus artesanatos e bijuterias e ela pegou sua bicicleta. Seguiram para a ASP - ela de bike, ele de "lambreta" - com a certeza do dever cumprido.


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Celeste sonha que está voando com os pássaros em um mundo em que não existem mais gaiolas


Naquele noite de domingo, houve uma rápida comemoração na associação com todos os aspeiros reunidos, enquanto eles viam a notícia no jornal da TV:

"Os Super Heróis Protetores dos Animais e da Natureza fizeram a diferença mais uma vez, agora para um grande número de aves silvestres que viviam em cativeiro em condições degradantes em um depósito da zona norte. Os três homens e as duas mulheres que faziam parte da quadrilha estão presos e os pássaros estão a salvo em um santuário..."

E então, Silvestre desligou a televisão.

- Não vamos nos envaidecer com isso! É bom que a notícia seja dada e que as pessoas sejam informadas sobre o que acontece. Também é bom que possamos dar um bom exemplo, especialmente aos jovens e às crianças. Estamos fazendo a nossa parte e isso é tudo que realmente importa. A luta continua, infelizmente este caso não é o único. Ainda temos muito trabalho pela frente. Vamos nos manter unidos!

- E o com o celular ligado - disse Celeste com um risinho maroto para o amigo.

- Pode deixar, "Céu". Céu azul, celular, Celeste. Assim você não vai precisar mais cair do céu em cima da sombrinha dos outros. 

Em meio as risadas e brincadeiras a dupla salvadora do dia se despediu, indo para suas respectivas casas. Estavam exaustos mas satisfeitos. Ambos dormiram muito bem e sonharam com um mundo onde os pássaros são todos livres e não existem gaiolas, afinal, "as asas existem para voar", disse Celeste dormindo e voando em seu sonho junto com lindos pássaros de todas as cores e espécies.

FIM



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