Os super heróis que usam seus poderes para defender os animais e a natureza!
Um Intruso na ASP
Tem lixo que pode virar um luxo!
E lá foi Risonha, nadando e com sua capa, que parecia se fundir com as águas do rio, arrastando todo o lixo ali jogado. Com seus poderes ela conseguia dissolver o lixo não reciclável que estava nas águas dos rios, e o restante levava para as margens, tomando as providências necessárias.
A criançada aplaudia eufórica e acenava pra Risonha, que acenava de volta e soltava sua famosa risada de criança que, um dia, lhe rendera este apelido.
Pras crianças, tudo é festa, mas o assunto era muito sério. Isso não podia continuar assim.
Depois que Mizuki separou todo o lixo descartável e Risonha uniu aos recicláveis selecionados por ela todos os recicláveis que havia tirado das águas, elas pediram a compreensão dos moradores porque precisavam decidir o que fazer.
Os adultos se afastaram e as crianças se sentaram em silêncio para não perturbá-las. Uma solução eficiente e definitiva precisava ser encontrada. O lixo não aproveitável precisava ser incinerado (o que foi feito em seguida com a ajuda dos adultos), mas isso não bastava, pois a história voltaria a se repetir de novo, de novo e de novo se nenhuma providência mais severa não fosse tomada.
De repente Mizuki gritou:
- Tive uma ideia!
Todos se aproximaram dela e então ela disse que precisaria contar com a ajuda dos moradores para que seu plano pudesse dar certo. Todos concordaram, pois já não aguentavam mais conviver com aquela lixão indesejado.
****************
Havia ao lado daquele terreno baldio que as pessoas faziam de lixão, uma espécie de barracão, uma casa de madeira, que antigamente servira de casa para o vigia de uma antiga fábrica que havia sido demolida muitos anos atrás. Sabe-se lá porquê, a casinha continuava de pé. Então Mizuki propôs:
- Vamos cercar com tela este terreno, já que, aparentemente, não pertence a ninguém e a prefeitura não está dando a mínima pra ele. Nessa casa de madeira, depois de pintada e arrumada, vamos fazer um atelier onde as crianças aqui das redondezas aprenderão a fazer muitas coisas úteis com lixo reciclável, inclusive com garrafas pet. E então, poderemos fazer exposições e vender essa arte, arrecadando dinheiro para a Causa Animal e campanhas ecológicas. E antes de tudo, uma placa precisa ser colocada logo na entrada, com os dizeres: "PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL". O que acham da ideia?
Todos adoraram, principalmente as crianças, que ficaram empolgadíssimas em aprenderem a fazer artesanato com material reciclável. Mizuki prometeu ir àquela cidade de quinze em quinze dias para dar aulas para crianças e adultos que quisessem aprender esta arte. Se alguma autoridade resolvesse se meter, ela teria muito, mas muito a dizer!
E assim, com a ajuda de Risonha e de todos ali, Mizuki guardou o material reciclável na casa de madeira. Ele seria usado já na primeira aula, dali a quinze dias.
- Eu faço questão de vir e acompanhar essa primeira aula, e aprender também - disse Risonha com seu sorriso largo.
- Que ótimo! Assim você me ajuda a organizar a criançada nesse primeiro dia. Depois, vai ser tudo mais calmo, mais fácil.
De retorno ao Rio, as duas aspeiras contaram aos colegas sobre os acontecimentos e a ideia de Mizuki. Celeste e Silvestre adoraram e prometeram fazer uma visita ao que seria o novo atelier. Silvestre, como artesão, poderia dar a sua contribuição sempre que possível. Todos os SUPRO estariam presentes no dia da inauguração.
E assim foi feito. A cada quinzena, a "doce japonesa" lá estava para ensinar às pessoas, principalmente crianças, a reciclar o lixo transformando-o em algo útil e belo, afinal, como dizia ela "tem lixo que pode virar um lixo!". E pode mesmo! Basta ter vontade de fazer acontecer!
FIM
Amado porquinho Neném
Pet Carinho estava em casa. Não era dia de seu plantão na ASP. Ela havia dado aula pela manhã e almoçara em um restaurante vegetariano próximo ao seu local de trabalho. Depois disso, foi para sua casa, no Recanto Natureza Feliz, e resolveu dar uma conferida no novo material didático que iria utilizar com seus alunos no ano letivo que se iniciava.
No dia anterior, ela havia resgatado mais três cachorros e dois gatos de maus tratos. Seu coração doía quando via que o abandono de animais continuava acontecendo e em certas épocas do ano como Natal e Carnaval, o número de pets jogados nas ruas aumentava ainda mais.
Sentada no seu sofá, lendo, acompanhada de dois de seus cachorros, ambos também resgatados por ela, Pet, ou a professora Luiza como era chamada na escola em que lecionava (para os alunos, tia Luiza), refletia sobre tudo isso.
Fechando o livro e o colocando sobre a mesa, ela resolveu tomar um banho, para depois tentar descansar um pouco.
Antes de ligar o chuveiro, ela viu Tixinha no vidro da janela e conversou um pouquinho com ela. Tixinha era uma lagartixa que vivia no banheiro de Pet fazia um bom tempo. Ficava lá, na dela, caçando mosquitinhos e não fazia mal a ninguém. Pet deixava o parapeito da janela propositalmente molhado com gotinhas de água fresca, para que a sua amiguinha bebesse água. Pet respeitava todos os seres da natureza, e a natureza em si, tal qual ela é.
Ao sair do banho, Pet foi direto pro seu quarto. Ia vestir uma roupa bem larga e confortável e assistir um pouco de TV quando ouviu seu celular tocando insistentemente. Não queria atender, mas sua intuição nunca falhava e ela sentiu que poderia ser algo urgente. Poderia ser da ASP, algum animal poderia estar precisando de seu socorro. E ela estava certa!
****************
Quando seus pais disseram que
ela teria que deixá-lo no sítio, Mabel chorou muito, mas concordou. No dia da
mudança para o Rio, ela se despediu de Neném aos prantos. Os pais prometeram
que ela iria sempre poder visitá-lo. Só que ela queria mesmo era buscá-lo para
viver com ela. Mas como levar um porquinho para viver num apartamento? Os pais
e tios haviam explicado que isso era impossível, mas ela não desistiria nunca!
O tempo foi passando, e nos
finais de semana, Mabel não abria mão de ir ao sítio ver seu porquinho, além de seus
tios, é claro. Neném foi ficando maior, e mais gordo. Um dia, na hora do
jantar, a tia de Mabel, Jane, comentou que Neném não demoraria a estar no
ponto certo para virar um jantar delicioso e perguntou a Mabel que data ela
escolheria para comer o Neném! “Você vai ver, querida, o seu porquinho vai dar
o pernil mais gostoso que você já comeu!” A tia não falou por mal. Na cabeça
dela isso era algo natural, "afinal, os porcos só existem com uma finalidade:
serem comidos". Mas a menina saiu da mesa chorando desesperadamente e foi para o
seu quarto. Não conseguiria mais ficar tranquila sabendo que Neném estaria no
sítio com aquela tia que queria matá-lo logo que ele engordasse apenas mais um
pouco.
Mas Mabel tinha um segredo: ela havia anotado o telefone dos Super Protetores dos Animais (ou SUPRO) e resolveu que assim que chegasse ao Rio, ligaria para eles escondido, pedindo ajuda. E assim aconteceu. Sua mãe, Marilia, estava tentando consolá-la, explicando que os porcos existiam para servir de comida para o ser humano. Mas a menina não concordava com isso! Ela amava Neném e não queria que ele sofresse nem que virasse comida.
Segunda-feira ao anoitecer, Mabel esperou sua mãe ir para a cozinha para preparar o jantar e antes que seu pai, Jair, chegasse do trabalho, foi até a sala, pegou o telefone e ligou para a ASP, falando bem baixinho, para que Marília não ouvisse. Seus pais sabiam dos Super Protetores e admiravam o trabalho deles, mas ela tinha medo de que eles se zangassem por ela os estar metendo em um assunto de família. Mabel era muito fã desses heróis, e Marine Água Azul era sua preferida, porque ela se achava um pouco parecida com ela e queria ser uma SUPRO quando crescesse!
E assim, quando Pet atendeu seu celular, Mizuki a pôs a par de todo o drama de Mabel e todo o seu desespero, afinal, seu porquinho de estimação, a quem muito amava, estava correndo risco de vida e ela iria sofrer muito se ele morresse. Mizuki prometera à menina que os SUPRO não permitiriam que isso acontecesse.
Sem titubear, após anotar o endereço, Pet desligou o celular, vestiu seu uniforme, subiu em seu tapete voador, e seguiu em direção à cidadezinha onde Neném morava.
****************
Enquanto isso, no sítio, a
tia de Mabel conversava com o marido, Paulo, durante o jantar:
- A Mabel nunca vai querer
comer o porco dela – disse tia Jane.
- Eu sei. É melhor a gente
vender esse porco.
- Ou a gente mata logo, antes
que a Mabel volte aqui. A gente diz que ele fugiu ou que alguém o roubou. O que não
podemos é ficar com esse porco engordando até explodir, porco foi feito pra
gente comer! E ele já está bem gordinho. Vai dar muito toucinho! Ia ser um desperdício de carne se a gente
deixasse ele morrer de gordo.
- Lá isso é verdade. Amanhã
acordo cedo e dou cabo dele. Comemos ele durante a semana e quando a Mabel vier, no sábado, já não vai ver nem uma sobrinha dele, e assim, ela não vai desconfiar
de nada.
- Eu posso mandar um pouco de
carne, banha e linguiça pra comadre Inácia e também pro Sr. Raimundo aqui do
lado. Assim acaba mais rápido.
Neste exato momento Pet
Carinho chegava ao sítio em seu tapete voador. Ela desceu correndo e foi
direto na direção das vozes que ouvia. Elas vinham da sala de jantar. A SUPRO dos pets chegou
na janela bem de mansinho, sem ser vista e conseguiu ouvir a última frase dita
por tia Jane, que foi o suficiente para que ela entendesse tudo.
“Vão matar, comer e distribuir parte da
carne do porquinho da menina! Chega logo, Joãozinho, tomara que o seu cavalo Joca hoje esteja ainda mais veloz!”.
E a conversa continuava...
- Boa ideia, Jane. Vamos dar
um pouco da carne pros vizinhos e acabar logo com isso. Onde já se viu, porco
de estimação! Por que ela não arranja um cachorro ou um gato?
- Não foi ela que arranjou,
Paulo. Ela ganhou de aniversário de uma amiga da Marília.
- É mesmo. Mas que amiga mais
maluca essa, vê se pode uma coisa dessas! Dar um porco de presente pra uma
criança!
E o casal caiu na gargalhada
enquanto Jane se levantava da mesa e recolhia os pratos e talheres,
levando-os à cozinha seguida do marido que a ajudava recolhendo as travessas e os copos.
Pet saiu da janela da casa e foi ao chiqueiro ver Neném, o único porco que havia ali. “Ele é lindo, igualzinho a Mabel o descreveu para a Mizuki”, pensou Pet consigo mesma acariciando o porco e fazendo-o dormir um soninho bem tranquilo. E assim, ela se sentou em um banco de madeira que havia ali perto para esperar pela chegada de João do Bom Chicote.
Uma hora depois surgiu
João, montado em seu cavalo Joca, que era o mais veloz do mundo! Ele deu um pulo do
cavalo e veio correndo em direção à Pet. Durante a viagem viera bolando um
plano e estava ansioso por contá-lo à sua grande amiga e companheira de causa.
- Pet! – gritou ele
- Shhhh! Fala baixo, desse
jeito você vai acordar todo mundo!
- Eu já sei o que nós vamos
fazer – disse ele baixando a voz.
- Eu bem que imaginei que
você, como sempre, já chegaria com plano e tudo! Conta logo, qual é a sua ideia?
- É muito simples, vamos raptar o porquinho!
- Você tá doido?
- Você tem uma ideia melhor?
- Eu vim pensando em conversar com eles, mas...
- Mas...
- Mas pelo que eu ouvi da conversa deles, não vai adiantar nada. Eles não vão entender. Nas cabeças deles, porcos são feitos unicamente pra servirem de alimento. Se formos tentar convencê-los do contrário é bem capaz de nos expulsarem daqui a pontapés e ainda matarem o porquinho na mesma hora! Você poderia usar o seu chicote neles, mas quando o efeito passasse, eles iriam acabar matando o porco mais cedo ou mais tarde! E enquanto isso a menina não ia ter mais tranquilidade, afinal, nem ela e nem nós estaríamos por perto pra vigiar a todo momento. Nem teríamos como.
Pet pensou por uns rápidos instantes, e então, se levantando, resoluta, decidiu:
- Vamos ao seu plano! Vamos raptar o Neném! E levá-lo ao santuário mais próximo, que sempre nos ajuda quando precisamos.
E assim foi feito. Pet colocou Neném em um sono ainda mais profundo, e com a ajuda de Joãozinho, o deitou em seu tapete voador, com todo cuidado e o carinho que lhe é característico.
- Eu vou na frente avisar ao pessoal do santuário - disse João, já montando em Joca e disparando pela estrada.
Pet já ia se sentando no seu tapete, pronta pra levantar voo, quando viu que as luzes da casa haviam se acendido. O casal, provavelmente, havia acordado com o barulho do trote do cavalo de Joãozinho. Paulo, o tio de Mabel, apareceu na varanda com uma espingarda na mão.
- Quem é? Pare aí agora se não quiser levar um tiro!
Pet se assustou com a ameaça mas sua coragem e o firme propósito de salvar a vida de Neném a fizeram enfrentar o homem de frente.
- Eu sou a Pet Carinho, sou uma Super Protetora dos Animais. Fiquei sabendo do caso do porquinho Neném e estou levando-o.
- Mas você não tem esse direito. Eu vou chamar a polícia! Isso é roubo!
Nisso, Jane, vestindo um quimono por cima da camisola surgiu ao lado do marido.
- O porco é nosso, você não pode levá-lo! - gritou ela.
- O porco é da sobrinha de vocês! E vocês é que iriam agir de maneira errada e desonesta ao se apropriarem dele sem a autorização dela. E mais: queriam matá-lo!
- Ora, ora, moça. Porcos são feitos para...
- Para viverem e serem muito bem tratados e felizes! E sem mais, estou indo.
- Espere - gritou Paulo - Você não pode fazer isso! E vai levá-lo pra onde? A Mabel vai ficar furiosa!
- Não vai não. Furiosa ela ficaria se chegasse aqui e não encontrasse o seu porquinho, a quem ela tanto ama!
- Espere aí! A Mabel está sabendo disso?
Enquanto essa discussão ocorria entre seu marido e a Super Protetora, Jane, de celular na mão, ligava para Marília, a mãe de Mabel. Esta acordou assustada, e mais chocada ainda ficou ao saber o motivo para aquele telefonema em uma hora tão imprópria. Correu até o quarto da filha e pediu satisfações. A essa altura, Jair, seu marido, também já tinha acordado e apareceu ao seu lado, aturdido, esperando que Mabel, em prantos, sentada em sua caminha cor-de-rosa, começasse a explicar o que estava acontecendo.
A garotinha, com dificuldade, e entre soluços, contou tudo a seus pais. E implorou que eles deixassem a Pet Carinho levar Neném embora do sítio.
Jair e Marília já estavam quase convencendo a menina de que seria melhor deixar Neném no sítio dos tios mesmo e, quando fossem lá, no final de semana, eles conversariam com Jane e a fariam mudar de ideia, desistindo de matar Neném. Mabel não se sentia nada segura com essa ideia, mas ela tinha que obedecer seus pais.
Nesse exato momento, porém, o celular de Marília toca novamente. Ela atende e não consegue esconder o embaraço. Dessa vez é Pet Carinho em pessoa.
A SUPRO havia se aproximado de Jane enquanto esta ainda falava com Marília e quando a ligação foi encerrada, pediu educadamente o celular para que visse o número. E então, usando seu próprio celular, Pet ligou para a mãe de Mabel e contou a conversa que ouvira da janela da sala de jantar, dizendo que não havia mais tempo a perder. Marília ficou chocada e bem decepcionada com os parentes, pois além de apressarem a morte do porquinho, ainda mentiriam para sua filha, e pelo jeito, para eles também.
Pet Carinho odeia fofocas, mas nesse caso, era necessário que a verdade fosse dita de maneira completa e direta, pois havia uma vida em jogo. Na verdade duas, pois Mabel poderia até adoecer caso Neném "desaparecesse" repentinamente do sítio de seus tios.
Pet já estava desligando o celular quando Paulo, irritado, começou a caminhar a passos largos em direção ao tapete onde estava Neném. Pet correu e parou em sua frente.
- Pare agora mesmo, senhor Paulo. Se não me obedecer ficará marcado para sempre como uma pessoa que maltrata animais!
- Ora essa, o que você quer dizer com isso, sua Mulher Maravilha de óculos?
- Eu farei aparecer uma marca na sua mão e é uma marca que nunca mais sumirá, não importa o que o senhor faça!
Paulo parou, meio incrédulo. Jane então falou:
- É verdade, Paulo. Eu já li sobre esses SUPRO. Eles têm mesmo esses poderes esquisitos, parece até coisa de bruxaria.
- Não é bruxaria. Mas isso agora não vem ao caso. Estou levando o Neném e não ousem se aproximar!
Pet Carinho fez o tapete voador se erguer no ar. Jane e Paulo olhavam boquiabertos. De repente, tomado de fúria, Paulo atirou para o alto sem pensar muito. Foi um gesto inconsequente, pois poderia ter acertado Pet. Mas acabou acertando Neném.
O porquinho acordou com seu próprio grito. Fora atingido bem no lombo. Pet esticou a mão com um gesto em direção a Paulo. No mesmo instante as costas de sua mão direita recebeu uma marca saliente que dizia "Protejam seus animais de mim, pois sou um perigo para eles".
- Você perdeu o juízo, homem. Ela avisou! - disse Jane olhando a marca na mão do marido.
Enquanto Paulo urrava de raiva, Pet acelerava em seu tapete, se preparando para descer num lugar próximo, e seguro.
***************
Pet estacionou seu tapete com o porquinho ferido em um terreno baldio e gramado. No mesmo instante adormeceu novamente Neném e usou o seu poder de cura para extrair a bala e fazer a ferida fechar e cicatrizar. Pronto, Neném estava curado e em segurança! Pet levantou voo em direção ao santuário.
Chegando lá, Joãozinho a esperava com tudo pronto para receber Neném com todo conforto, e assim, o porquinho foi colocado num abrigo muito aconchegante, que passaria de agora em diante, a ser a sua caminha. Pet contou ao amigo aspeiro o porquê da demora e explicou tudo que havia acontecido. Para não incomodar de novo a família de Mabel, com telefonemas àquelas horas da madrugada, eles optaram por enviar uma mensagem de áudio via whatsapp avisando que Neném já estava a salvo no santuário onde ficaria morando.
No dia seguinte pela manhã, lá estava Mabel, radiante, com seus pais, chegando ao santuário. Ao vê-la, Neném correu em sua direção e Mabel o abraçou e beijou, chorando. Mas agora, as lágrimas eram de felicidade e gratidão! Ela iria ver Neném todos os dias, sempre que possível. E se seus pais um dia pudessem alugar ou comprar uma casa, ela iria levá-lo para morar com ela. E mais: ela só se casaria com um marido que aceitasse o Neném! Estava decidido!
Enquanto tudo isso passava pela cabeça de Mabel, ali abraçadinha com Neném diante dos olhares emocionados de seus pais, Pet e João chegavam em suas casas para dormirem o sono dos justos. Não aguentaram esperar por Mabel. Uma outra hora se encontrariam com ela ali no santuário ao visitarem Neném. Mas bastava de emoções fortes por aquele dia. Já haviam enviado áudios para os amigos aspeiros contando os acontecimentos. Agora, o compromisso de ambos era apenas com Morfeu, o deus dos sonhos!
FIM
Deixem as árvores em paz!
- Ganhei! - gritou ele feliz e se sentindo em casa.
- Claro, você anda nos cipós e eu não! Isso não é justo.
- Mas os seus saltos você usou!
- Mesmo saltando como uma tigresa não sou páreo pra você. Mas valeu pela diversão!
Eles se despediram alegremente, pois Silvestre estava retornando ao Rio, enquanto Larissa ainda tinha uma missão a cumprir no meio da Amazônia. Ela sabia disso e sentia que algo estranho pairava no ar.
****************
Larissa, saltando e farejando o ar continuava sua busca pela floresta. Ela sabia que havia algo errado. Aquele silêncio prenunciava algo ruim. E não deu outra. De repente o ruído das motosserras retornou ainda mais alto e então ela entendeu o que estava acontecendo:
- Esses bandidos tinham desligado as motosserras porque estavam indo justamente pra área mais crítica da Amazônia! Eu não acredito. Tenho certeza absoluta que eles agem na ilegalidade e na clandestinidade!
Diante da urgência, ela se apressou e, transformou-se em vento para chegar mais rápido. Ao avistar os homens serrando árvores de área de preservação, ela voltou à sua forma humana e rugiu como uma leoa que perdeu a cria.
Assustados, os homens procuraram a fera, mas nada avistaram. Retornaram à sua triste função. Mas de repente, ouviram novamente o rugido e ao olharem para o alto de uma árvore, justamente a próxima que iriam derrubar, viram uma jovem magra e franzina a olhar para eles com cara de poucos amigos.
- Você fez isso? - perguntou um deles, debochado.
Larissa continuou a encará-lo em silêncio.
- Ei, menina, você imita muito bem um rugido de leão. Faz de novo, faz.
E os homens então caíram na risada.
- Ei, ela não parece uma índia. O que ela está fazendo no meio da floresta e com sutiã de casca de coco?
Mais uma vez eles gargalharam.
- Desce aqui, gatinha - disse um outro que se aproximava naquele instante.
Havia no mínimo seis duplas de homens cobrindo áreas diferentes, embora próximas.
Larissa não aguentou mais, e disparou:
- Eu também sei fazer outras imitações, querem ver?
E então ela pulou da árvore imitando o salto dos tigres.
- Tigresa - disse ela.
Os homens se assustaram, mas vendo-a ali tão perto, sozinha e desprotegida, voltaram a dar risadas, se aproximando dela com a intenção de agarrá-la. Mas então quando eles iam tocá-la, ela sumiu por entre seus dedos!
- Vento - foi a última palavra que eles ouviram a voz de Larissa dizer.
Eles começaram a procurar por ela e passaram a especular se aquela moça não seria uma bruxa ou uma feiticeira.
O vento começou a ficar mais forte, movimentando os galhos das árvores e derrubando folhas secas. Os homens se assustaram ainda mais. Mas mesmo assim, ainda que inseguros, insistiram em continuar cortando as árvores com suas motosserras barulhentas.
Fora da floresta um caminhão cheio de madeiras estava estacionado. Dois homens, impacientes começaram a discutir.
- Eles estão demorando muito! Já era pra gente estar na estrada com essa madeira. Se os homens descobrem estamos ferrados!
- O que será que houve? Por que o atraso? Eu vou lá ver o que está havendo!
E sem esperar qualquer anuência do colega, foi entrando pela mata adentro. Ele sabia a direção exata de onde seus comparsas deveriam estar e de repente ele viu os troncos pelo chão, constatando que eles passaram por ali e estavam fazendo seu serviço com eficiência.
E foi aí que ele ouviu um rugido.
- Um leão por aqui? Será isso mesmo? Ou será a onça pintada?
Ele foi andando e se aproximando devagar.
- Será que essa fera devorou meus homens? Se isso aconteceu, posso ser devorado também.
Nesse exato momento três de seus homens vinham correndo, assustados, da direção contrária e se chocaram com ele, indo os quatro ao chão com toda força.
- Ela é uma feiticeira - gritou um dos homens.
- Conseguimos amarrá-la mas ela deu um rugido de leoa, acho que ela vai se soltar e matar todos nós!
Se levantando, o motorista do caminhão e chefe do grupo, sem entender nada perguntou, irritado:
- Ela quem? Quem é a feiticeira? De quem vocês estão falando?
E então os três, meio que atropelando as palavras, começaram a narrar tudo que havia acontecido até aquele momento, em que o rugido da "leoa" os fez sair correndo.
****************