Um Intruso na ASP

 

Na ASP Ziro Porteira Aberta e Zeca Ar puro conversam sobre DC e Marvel

Numa terça-feira de manhã lá estavam Ziro Porteira Aberta e Zeca Ar Puro (a "dupla Z-Z", como João do Bom Chicote gosta de se referir a eles), discutindo sobre qual é a melhor: DC ou Marvel. Ziro, como fã do Super Homem e demais heróis da DC Comics, a defendia com unhas e dentes, enquanto Zeca, cujo herói preferido é o Homem de Ferro, fazia a defesa, igualmente veemente, da Marvel.

De plateia, somente a Rosa Jardineira, que, juntamente com eles, estava de plantão na ASP naquele dia. Mas ela, mais preocupada em regar os vasos de flor, apenas sorria e balançava a cabeça sem opinar. Na verdade ela até que gostava das duas, mas não era exatamente fã de nenhuma delas.

De repente, alguém toca a campainha da Associação. Rosa, que estava mais próximo à entrada, abre a porta e se depara com um ser muito parecido com Zarah, a extraterrestre criadora dos Super Protetores dos Animais, que os havia recrutado um a um. 

Rosa, ainda surpresa, o faz entrar. Ziro e Zeca se levantam e vão até o estranho visitante. Ele prefere não se sentar e vai logo dizendo:

- Saudações, amigos da ASP. Sou Inirion. O que me trouxe aqui hoje é um assunto muito sério. Trago um recado de Zarah. Por motivos familiares ela teve que retornar ao seu planeta de origem. Eu também venho de lá, do mesmo orbe. Seria possível falar com todos os Super Protetores?

Surpresa e confusa, Rosa olhou para os dois amigos, que também tinham expressões de espanto em seus rostos.

- Bem, vou tentar - disse ela finalmente - Precisamos ver se estão todos disponíveis agora. Alguns estão no trabalho. Mas como já é quase hora do almoço, vamos ver o que se pode fazer.

E então, os três começaram a enviar mensagens pelo whatsapp para cada um dos aspeiros que estavam ausentes. Todos, ansiosos e preocupados, prometeram dar um jeito de se reunirem na ASP na hora do almoço.


****************

Inirion, o estranho visitante que chegou à ASP

Com todos reunidos na ASP, Inirion começou a falar:

- Infelizmente Zarah teve sérios problemas com sua família e teve autorizalçao para retornar ao planeta. Mas não teve tempo de se despedir de vocês, então me encarregou de vir em seu lugar para avisá-los. Ela partiu agora há pouco em sua nave.

- Então isso quer dizer que a partir de agora você é quem irá comandar os SUPRO? - perguntou Marine Água Azul tentando entender o que se passava.

- Infelizmente não. - respondeu Inirion com uma expressão bastante séria. 

- Mas então ficaremos sem...

- Não é nada disso - continuou Inirion antes que Zeca Ar Puro pudesse concluir sua frase - Eu vim comunicar uma decisão de Zarah. Aqui termina a missão de vocês. Podem retornar para suas vidas normais. 

- Como assim? - questionou Pet Carinho - Você está dizendo que não haverá mais os SUPRO?

- Exatamente. Infelizmente não será possível dar continuidade à missão.

- Mas e os animais, e a natureza, como ficam? - perguntou Larissa, a Florisbela Mata Verde.

- Você não pode simplesmente chegar aqui e ir dizendo "acabou tudo" e pronto, "até nunca mais" - se irritou Ziro Porteira Aberta.

E então todos começaram a falar ao mesmo tempo, até que Mizuki, a Maria Recicla-tudo, interveio:

- Calma, pessoal. Vamos tentar conversar, e arranjar uma solução pacífica pra isso.

- Exatamente - concordou Rosa. Ficar discutindo não vai resolver nada, só vai piorar a situação. 

- Que solução pacifica? - explodiu Joãozinho. Vocês ouviram o que esse cara disse?

- Mais respeito, Joãozinho. Ele é nosso superior, ao que tudo indica - disse Silvestre tentando acalmar a situação.

- Muito bem - dessa vez foi Risonha dos Rios quem veio com a proposta - E se você ficasse provisoriamente no nosso comando até Zarah poder voltar?

E aí Inirion não conseguiu esconder sua irritação:

- Vocês não estão entendendo? ACABOU! Zarah não volta. Nunca mais!

- Mas afinal o que houve com ela? - insistiu Pet Carinho. 

- Ela sofreu perdas familiares e precisará ficar cuidando da família, dos que restaram. Não posso dar maiores informações. Eu sinto muito ter que dar essa notícia. E eu também não posso ficar, pois tenho um cargo que ocupo em meu planeta. 

- Mas e nossos poderes? - perguntou Celeste Liberdade - Iremos perder os nossos poderes?

Nesse momento, o extraterrestre pareceu confuso, mas mesmo mostrando insegurança na voz, respondeu:

- Não sei, mas acredito que sim. Agora tenho que ir. 

Dizendo isso, ele saiu rapidamente sem olhar para trás, deixando os aspeiros todos perplexos e completamente perdidos. 

- Ela não nos deixaria assim, sem avisar - lamentou Roberto Lab Legal, que recentemente havia levado uma advertência de Zarah.

E então, Ziro reagiu:

- Vou atrás desse cara!

- Eu vou com você - disse Zeca.

- Isso mesmo, vão logo - disse Rosa, quase empurrando os dois "voadores", que mal pisaram do lado de fora da porta, já foram logo levantando voo.

Celeste também quis ir, alegando que também era voadora, assim como Pet Carinho. Mas Rosa argumentou que poderia ser perigoso, visto que ela era muito jovem e inexperiente e que algum inimigo poderia cortar suas asas e tirar o tapete de Pet, enquanto Zeca e Ziro não corriam esse risco, já que seu poder de voar não estava em suas capas.

- Mas e se de repente eles perdem o poder? E se Zarah for mesmo retirar nossos poderes como disse o estranho? - questionou Marine.

Todos ficaram pensativos e de repente começaram a ver as incoerências da história narrada por Inirion.

- Se Zarah foi embora em sua nave e nós ainda temos nossos poderes, porque ela não os retiraria antes de partir? - questionou Roberto.

- Será que ela estava com tanta pressa assim? - perguntou Risonha.

- Mas teve tempo de instruir esse cara direitinho e pelo jeito ele não sabia nada a respeito dos nossos poderes, ou então se esqueceu. - refletiu Joãozinho.
 
E então Larissa fez a pergunta que estava cutucando a mente de todos os aspeiros:

- Mas afinal, de onde ele saiu? Zarah sempre falou apenas de seu superior, Tharvo. Nunca falou de nenhum Inirion.

- Essa história não está cheirando bem - disse Pet Carinho.

- Está fedendo mais que lixo podre! - completou Mizuki.

- Precisamos investigar isso - disse Silvestre.

- Vamos deixar que os voadores dêem alguma notícia, eles estão cuidando disso. Se eles precisarem de reforço, aí sim, mais alguns de nós entramos em ação! - disse Rosa.

Todos concordaram e resolveram esperar, mesmo que ansiosos, por notícias da "dupla Z-Z".

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A nave de Zarah escondida em um descampado atrás das árvores

Zeca e Ziro procuraram ser bem discretos ao seguirem Inirion, voando bem alto e sem se aproximarem muito. O extraterrestre deu alguns passos em direção à floresta que havia logo atrás do Recanto Natureza Feliz e de repente, desapareceu.

- Ele sumiu! - gritou Zeca para Ziro, procurando descer no local onde o estranho havia desaparecido. 

- Eu vou continuar aqui do alto procurando sinal de alguma coisa estranha - gritou Ziro, voando mais baixo mas sem descer.

E assim, Zeca começou a investigar por Terra e Ziro pelo alto. 

De repente, Zeca viu o amigo retornar rapidamente, gesticulando sem parar para que ele levantasse voo. 

- Vem Zeca, vem ver isso!

Então Zeca levantou voo e os dois rapidamente chegaram a um descampado no meio da floresta onde havia uma estranha luz brilhando, formando um círculo.

- Uma nave camuflada. A nave do estranho. - disse Zeca.

- Isso se o estranho estiver falando a verdade. Porque sabemos que era por aqui que ficava a nave de Zarah!

- É verdade, vamos chegar mais perto!

E os dois então, desceram e se acercaram do local onde aparentemente se escondia nave, invisível. 

Então, veio um vento muito forte, junto com um barulho de motores muito sutis sendo ligados. E a grande nave se fez visível diante de seus olhos: uma enorme nave prateada, arredondada e sem portas ou janelas.

Os Z-Z, que haviam caído no chão, derrubados pelo vento que a nave soltou no momento da partida, se levantaram assustados.

- Onde fica a entrada disso aí? - perguntou Ziro com cara de espanto.

- E como é que eu vou saber? - retrucou Zeca tão abismado quanto o amigo.

- Epa, estou me lembrando! Esse Inirion mentiu, porque essa é a nave de Zarah. Não é possível que todas as naves nesse planeta deles sejam iguais. E além disso, como esse cara veio parar aqui?

- A menos que ele tenha dito a verdade. Zarah já foi embora e ele ficou para nos avisar e essa nave é a dele.

- Mas exatamente igual a de Zarah?

- Vamos entrar na nave! Se não há porta, você faz a porta!

Mas aparentemente era tarde demais. A nave levantava voo. Os dois amigos SUPRO se entreolharam e como se pudessem se comunicar por telepatia, saíram voando ao mesmo tempo, lado a lado, em perseguição à nave que parecia estar entrando em processo de invisibilidade novamente. 

Porém, antes que isso acontecesse e a nave sumisse completamente, eles voaram o mais rápido que puderam e então Ziro, esticando os braços com as mãos fechadas, voou direto para a nave, abrindo um rombo enorme em uma de suas laterais e já entrando no veículo. Zeca o seguiu, e também entrou. 

Não viram ninguém ali, mas certamente o comandante sentiu o baque. Os dois aspeiros começaram a percorrer o interior da nave apressadamente e de repente ouviram uma voz:

- Aqui, me ajudem, estou aqui.

Eles reconheceram a voz de imediato: era Zarah!

Eles correram em direção à sua voz, e, chegando a uma câmara lateral, com porta e parede feitas de um material que parecia vidro, viram Zarah, aprisionada em uma espécie de redoma magnética. 

- Desliguem o botão, aqui, ao lado da porta.

- Mas como vamos entrar se está tudo trancado? - perguntou Zeca.

Sem esperar nem mais um instante, Ziro respondeu, já entrando em ação:

- Assim - e com um murro rompeu o tal vidro, que se espatifou em mil pedacinhos, e completou - do mesmo jeito que entramos na nave!

 E então, Zeca esticou o braço para apertar o botão, mas antes que pudesse alcançá-lo percebeu que estava paralisado. Olhou para o amigo à sua frente e percebeu que Ziro também não conseguia se mexer.

Diante de ambos, surgiu a misteriosa figura de Inirion. 

- Vocês se acham muito espertos, não é? Mas não passam de terráqueos inúteis! Vou abrir a porta da nave e enviar vocês de volta ao chão do jeito que vocês estão agora, completamente parados!

- Não! - gritou Zarah. - Não faça isso!

- E você? Por que acha que pode me dar ordens depois de todo mal que me fez? Vocês acham que ela é boazinha? Pois ela é a culpada por anos e anos de sofrimento que fui obrigado a suportar no nosso planeta. Mas consegui escapar e vim em uma nave que se autodestrói cinco minutos após o pouso. Assim não deixa rastro!

- Você sabe que eu fiz o que tinha que fazer, você não consegue entender isso?

- Não! E agora chega de conversa. É hora de mandar esses chatos pelos ares!

E assim, Inirion levou Ziro e Zeca até o local onde estava o rombo que fora aberto na nave e os empurrou com toda força. Ainda conseguiram ouvir o grito desesperado de Zarah:

- Não!!!

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Tharvo surge para fazer justiça


Enquanto Inirion ria e ia aos poucos retornando ao local onde estava Zarah, houve outro baque na nave. Mas muito mais suave e acompanhado de uma brisa.

Inirion se virou e qual não foi a sua surpresa quando deu de cara com Tharvo segurando Ziro e Zeca em cada uma de suas mãos. 

- Tharvo! O que você faz aqui?

- Eu que te pergunto, Inirion, o que você faz aqui? Deveria estar na prisão lá em nosso planeta.

E colocando os dois SUPRO no chão da nave em segurança e livres da paralisia imposta pelo intruso, Tharvo foi até a câmara onde estava Zarah, libertando-a. Então paralisou Inirion, dizendo que o devolveria à prisão de onde nunca deveria ter fugido e tomaria providências para evitar uma nova fuga.

E então, foi Zarah quem contou aos nossos heróis de capa o que havia acontecido:

- Inirion era um importante ministro em nosso planeta. Mas o poder lhe subiu à cabeça e ele se apoderou de uma grande quantia em dinheiro, um valor muito alto que não lhe pertencia, ou seja, roubo, para usar linguagem de vocês aqui na Terra. Fui eu que descobri tudo e o denunciei. Ele jamais me perdoou porque ele nutria uma paixão por mim, embora eu nunca tenha lhe dado esperanças. Mas ele insistia que havia feito aquilo por mim, para garantir nosso futuro. Por isso se sentiu traído quando eu o entreguei às autoridades planetárias. Ele foi para a cadeia, e isso faz uns quarenta anos da Terra. Em nosso planeta contamos o tempo de forma diferente, então não parece ter tanto tempo assim quanto é para vocês, terráqueos.  Ele tem tentado fugir todo esse tempo, e agora que conseguiu descobriu meu paradeiro e veio se vingar de mim. Ele queria atrapalhar a minha missão com vocês e me levar à força a algum outro planeta para me forçar a ficar com ele. Felizmente vocês apareceram e com isso Tharvo teve tempo de chegar. Só posso agradecer a vocês, por arriscarem suas vidas para me salvar. Vocês já têm provado seu valor incontáveis vezes e agora deram um passo ainda mais além. Minha gratidão eterna a vocês dois e todos os SUPRO.

Ziro e Zeca estavam emocionados e sem saber o que dizer.

Tharvo esticou a mão e fez o vidro e a porta da nave que haviam sido quebrados ficarem perfeitos novamente. 

- Minha nave está acoplada a esta nave-mãe. Eu vou retornar ao nosso planeta. Zarah continuará com vocês e seguirá com esta nobre missão de proteger a natureza e os animais da Terra. 

Ainda que constrangidos pelo olhar penetrante e todo o poder que emanava de Tharvo, a dupla Z-Z conseguiu balbuciar um "muito obrigado".

Tharvo deu um sorriso discreto, somente com os lábios, se virou e, pegando a "estátua" de Inirion, partiu em direção à sua pequena nave, que, desacoplando, seguiu seu caminho rumo ao seu planeta de origem. 

Zarah sorriu e tomou o comando da nave, indo de volta à floresta . Ao chegar, deu a ordem:

- Tragam todos os aspeiros até aqui. É justo que todos conheçam a nave por dentro. E eu mesma faço questão de contar a eles tudo o que aconteceu. Também quero tranquilizá-los e garantir que Inirion nunca mais irá voltar.

Zarah pela primeira vez reúne todos os SUPRO em sua nave-mãe


E assim foi feito. Zeca e Ziro foram literalmente voando para a ASP e, atropelando as palavras, ainda afetados pelas fortes emoções das últimas horas, avisaram da convocação de Zarah para uma reunião imediata em sua nave. Incrédulos, lá foram os aspeiros, tentando controlar a curiosidade.

Ao chegarem ao local da nave, que já estava completamente invisível, eles foram teletransportados por Zarah para o seu interior.

Do alto apenas os pássaros viam, com espanto, um grupo de pessoas desaparecerem bem no meio da floresta.

FIM






Tem lixo que pode virar um luxo!

 

Mizuki, Silvestre, Celeste e Risonha jogam baralho na ASP

Tarde de domingo na ASP (sim, sábado, domingo, feriado e dia santo também tem plantão na Associação dos Super Protetores), Mizuki - a Maria Recicla-tudo, Silvestre Selvagem, Celeste Liberdade e Risonha dos Rios jogam baralho. Risonha, Celeste e Silvestre estavam em seu dia de plantão. Já Mizuki, que estava se sentindo entediada em sua casa naquela tarde, foi chamada para compor dupla com Silvestre. 

Já estavam na quinta rodada (que estava longe de ser a última) quando o telefone tocou. Silvestre foi atender e a pessoa do outro lado da linha, nervosa, falava sem parar.

- Por favor, minha senhora. Fale devagar e mais baixo, pra que eu possa entendê-la melhor!

E então ela contou que falava de uma cidade na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, e já não aguentava mais tanto lixo próximo à sua casa, que, além de ser invadida por um fedor insuportável, vivia sendo infestada por ratos, moscas e baratas. O local não era apropriado para ser usado como lixão, mas as pessoas, mesmo sem a autorização da prefeitura da cidade, continuavam jogando lixo ali. Perto do lixão improvisado e ilegal, havia um rio passando e dentro dele sempre acabava indo parar muito desse lixo descartado de maneira irresponsável, ainda mais que este era justamente o rio que abastecia a cidade, e muita gente costumava pescar em suas águas. Os moradores daquela rua já haviam reclamado, inclusive com as autoridades locais, mas de nada adiantou. O povo parava por alguns dias, mas logo depois voltava a jogar lixo de todo tipo no local: lixo orgânico, inorgânico, reciclável, não reciclável. Diante da falta de resolução do problema pelos "mandachuvas" locais, ela, em nome de todos os vizinhos, resolvera procurar os SUPRO na capital, para que eles, quem sabe, pudessem ajudar. 

Silvestre, após desligar o telefone, olhou imediatamente pra Mizuki:

- Ah, minha japonesa favorita, não foi por acaso que você veio pra ASP hoje. Você estava entediada, né? Pois acho que seu dia vai ser mais movimentado do que você imaginava.

E então ele contou todo o caso para os colegas ali presentes. Ao ouvir que tinha um rio sendo contaminado por todo tipo de lixo, Risonha se levantou da mesa e decretou:

- Estou com a Mizuki neste caso. Se tem rio no meio, a Risonha aqui não fica de fora de jeito nenhum!

- Isso mesmo, amiga - disse Mizuki - eu ia mesmo pedir a sua ajuda. Você cuida de limpar o rio e eu limpo o terreno! Mas isso não basta, porque senão, amanhã, já estão lá jogando lixo de novo! Vamos ter que ir além da limpeza!

E assim foi feito. Silvestre e "Céu" (Celeste) deram continuidade ao seu plantão na Associação e resolveram jogar mais um pouco de baralho, só os dois mesmo. 

Silvestre havia sido homenageado pela manhã com uma medalha, por ser um grande representante do povo indígena e honrar suas origens defendendo com tanta competência os animais silvestres e selvagens. Ele não queria ir, mas os seus amigos SUPRO o fizeram se enfiar em um terno e aceitar a homenagem mais do que merecida.

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O lixo acumulado em lugar impróprio estava contaminando o rio e as casas dos moradores


Sem poder contar com a ajuda de nenhum dos voadores - Celeste estava disponível, mas não podia deixar Silvestre sozinho no plantão - Mizuki e Risonha viajaram de carro, com esta última ao volante, em um carro alugado. 

Depois de mais de duas horas e meia de viagem, elas chegaram ao local. A moradora que havia ligado para a ASP esperava por elas. 

- É uma honra receber duas super heroínas protetoras dos animais e da natureza! Nem sei como agradecer a vocês. 

No mesmo instante a rua ficou cheia de pessoas, inclusive crianças eufóricas, pedindo autógrafos e selfies. As moças, atenciosas, não se recusaram. Mas estavam preocupadas em resolver a situação o mais rápido possível. 

Ao verem aquela montanha de lixo bem às margens do rio, já todo sujo e poluído, ficaram indignadas. 

Mizuki, no mesmo instante, se enfiou por lá  e, usando seus poderes, com uma velocidade que não deixa nada a desejar a "The Flash", começou a separar o lixo reciclável daquele que não poderia ser aproveitado. Vendo aquilo, os moradores adultos aplaudiram juntamente com as crianças, que gritavam: "É a Recicla-tudo, é a Recicla-tudo!".

Enquanto Mizuki/Maria fazia isso, a Risonha dos Rios, em seu uniforme de aspeira com capa e tudo, mergulhava no rio. 



Risonha dos Rios entra em ação, mergulhando no rio para fazer a limpeza necessária
 

E lá foi Risonha, nadando e com sua capa, que parecia se fundir com as águas do rio, arrastando todo o lixo ali jogado. Com seus poderes ela conseguia dissolver o lixo não reciclável que estava nas águas dos rios, e o restante levava para as margens, tomando as providências necessárias. 

A criançada aplaudia eufórica e acenava pra Risonha, que acenava de volta e soltava sua famosa risada de criança que, um dia, lhe rendera este apelido. 

Pras crianças, tudo é festa, mas o assunto era muito sério. Isso não podia continuar assim.

Depois que Mizuki separou todo o lixo descartável e Risonha uniu aos recicláveis selecionados por ela todos os recicláveis que havia tirado das águas, elas pediram a compreensão dos moradores porque precisavam decidir o que fazer. 

Os adultos se afastaram e as crianças se sentaram em silêncio para não perturbá-las. Uma solução eficiente e definitiva precisava ser encontrada. O lixo não aproveitável precisava ser incinerado (o que foi feito em seguida com a ajuda dos adultos), mas isso não bastava, pois a história voltaria a se repetir de novo, de novo e de novo se nenhuma providência mais severa não fosse tomada.

De repente Mizuki gritou:

- Tive uma ideia!

Todos se aproximaram dela e então ela disse que precisaria contar com a ajuda dos moradores para que seu plano pudesse dar certo. Todos concordaram, pois já não aguentavam mais conviver com aquela lixão indesejado.


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Havia ao lado daquele terreno baldio que as pessoas faziam de lixão, uma espécie de barracão, uma casa de madeira, que antigamente servira de casa para o vigia de uma antiga fábrica que havia sido demolida muitos anos atrás. Sabe-se lá porquê, a casinha continuava de pé. Então Mizuki propôs:

- Vamos cercar com tela este terreno, já que, aparentemente, não pertence a ninguém e a prefeitura não está dando a mínima pra ele. Nessa casa de madeira, depois de pintada e arrumada, vamos fazer um atelier onde as crianças aqui das redondezas aprenderão a fazer muitas coisas úteis com lixo reciclável, inclusive com garrafas pet. E então, poderemos fazer exposições e vender essa arte, arrecadando dinheiro para a Causa Animal e campanhas ecológicas. E antes de tudo, uma placa precisa ser colocada logo na entrada, com os dizeres: "PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL". O que acham da ideia?

Todos adoraram, principalmente as crianças, que ficaram empolgadíssimas em aprenderem a fazer artesanato com material reciclável. Mizuki prometeu ir àquela cidade de quinze em quinze dias para dar aulas para crianças e adultos que quisessem aprender esta arte. Se alguma autoridade resolvesse se meter, ela teria muito, mas muito a dizer!

E assim, com a ajuda de Risonha e de todos ali, Mizuki guardou o material reciclável na casa de madeira. Ele seria usado já na primeira aula, dali a quinze dias.

- Eu faço questão de vir e acompanhar essa primeira aula, e aprender também - disse Risonha com seu sorriso largo.

- Que ótimo! Assim você me ajuda a organizar a criançada nesse primeiro dia. Depois, vai ser tudo mais calmo, mais fácil.


Mizuki ensina as crianças moradoras da localidade próxima do ex-lixão a fazer arte com garrafas pet

De retorno ao Rio, as duas aspeiras contaram aos colegas sobre os acontecimentos e a ideia de Mizuki. Celeste e Silvestre adoraram e prometeram fazer uma visita ao que seria o novo atelier. Silvestre, como artesão, poderia dar a sua contribuição sempre que possível. Todos os SUPRO estariam presentes no dia da inauguração.

E assim foi feito. A cada quinzena, a "doce japonesa" lá estava para ensinar às pessoas, principalmente crianças, a reciclar o lixo transformando-o em algo útil e belo, afinal, como dizia ela "tem lixo que pode virar um lixo!". E pode mesmo! Basta ter vontade de fazer acontecer!


FIM




 






Amado porquinho Neném

Pet  Carinho lendo um livro em sua casa acompanhada de dois de seus cachorros

Pet Carinho estava em casa. Não era dia de seu plantão na ASP. Ela havia dado aula pela manhã e almoçara em um restaurante vegetariano próximo ao seu local de trabalho. Depois disso, foi para sua casa, no Recanto Natureza Feliz, e resolveu dar uma conferida no novo material didático que iria utilizar com seus alunos no ano letivo que se iniciava. 

No dia anterior, ela havia resgatado mais três cachorros e dois gatos de maus tratos. Seu coração doía quando via que o abandono de animais continuava acontecendo e em certas épocas do ano como Natal e Carnaval, o número de pets jogados nas ruas aumentava ainda mais. 

Sentada no seu sofá, lendo, acompanhada de dois de seus cachorros, ambos também resgatados por ela, Pet, ou a professora Luiza como era chamada na escola em que lecionava (para os alunos, tia Luiza), refletia sobre tudo isso. 

Fechando o livro e o colocando sobre a mesa, ela resolveu tomar um banho, para depois tentar descansar um pouco.  

Tixinha, a lagartixa "adotada" por Pet Carinho, que vive em seu banheiro

Antes de ligar o chuveiro, ela viu Tixinha no vidro da janela e conversou um pouquinho com ela. Tixinha era uma lagartixa que vivia no banheiro de Pet fazia um bom tempo. Ficava lá, na dela, caçando mosquitinhos e não fazia mal a ninguém. Pet deixava o parapeito da janela propositalmente molhado com gotinhas de água fresca, para que a sua amiguinha bebesse água. Pet respeitava todos os seres da natureza, e a natureza em si, tal qual ela é. 

Ao sair do banho, Pet foi direto pro seu quarto. Ia vestir uma roupa bem larga e confortável e assistir um pouco de TV quando ouviu seu celular tocando insistentemente. Não queria atender, mas sua intuição nunca falhava e ela sentiu que poderia ser algo urgente. Poderia ser da ASP, algum animal poderia estar precisando de seu socorro. E ela estava certa!


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A garotinha Mabel chora porque não quer se separar de seu porquinho de estimação, Neném.

Na ASP, Mizuki, a Maria Recicla-tudo, ligava insistentemente para Pet Carinho, enquanto seu companheiro de plantão, Zeca Ar Puro, ligava para João do Bom Chicote. Esse era um caso para um dos dois, ou de preferência, para os dois juntos, se ambos pudessem estar disponíveis naquele momento para colaborar. Afinal, Pet é a protetora dos pets (ou animais familiares, de estimação, domésticos) como cachorros, gatos, coelhos, etc, e Joãozinho é o protetor dos animais considerados "gado", seja de corte, seja de leite, além dos que puxam carroças e são usados a serviço do homem.

O motivo de todo esse empenho em encontrar Pet e Joãozinho, foi um telefonema muito comovente que fora atendido por Mizuki. Uma garotinha de apenas seis anos de idade, em pratos e falando bem baixinho, contara sua história:

Mabel era o nome dela. Até pouco tempo atrás, ela morava com os pais e tios num sítio pequeno e aconchegante, numa cidadezinha do interior do Rio de Janeiro. Seu pai havia arranjado um emprego na capital e ela estava muito triste de ter que se mudar. No seu aniversário de seis anos, comemorado com festa em um domingo, ela ganhara um presente maravilhoso, mas inusitado: um porquinho rosinha e muito fofo, que ela amou no mesmo momento em que o viu! Deu-lhe o nome de Neném. Na semana seguinte, ela nem se lembrou de suas bonecas, só queria brincar com o Neném.

Quando seus pais disseram que ela teria que deixá-lo no sítio, Mabel chorou muito, mas concordou. No dia da mudança para o Rio, ela se despediu de Neném aos prantos. Os pais prometeram que ela iria sempre poder visitá-lo. Só que ela queria mesmo era buscá-lo para viver com ela. Mas como levar um porquinho para viver num apartamento? Os pais e tios haviam explicado que isso era impossível, mas ela não desistiria nunca!

O tempo foi passando, e nos finais de semana, Mabel não abria mão de ir ao sítio ver seu porquinho, além de seus tios, é claro. Neném foi ficando maior, e mais gordo. Um dia, na hora do jantar, a tia de Mabel, Jane, comentou que Neném não demoraria a estar no ponto certo para virar um jantar delicioso e perguntou a Mabel que data ela escolheria para comer o Neném! “Você vai ver, querida, o seu porquinho vai dar o pernil mais gostoso que você já comeu!” A tia não falou por mal. Na cabeça dela isso era algo natural, "afinal, os porcos só existem com uma finalidade: serem comidos". Mas a menina saiu da mesa chorando desesperadamente e foi para o seu quarto. Não conseguiria mais ficar tranquila sabendo que Neném estaria no sítio com aquela tia que queria matá-lo logo que ele engordasse apenas mais um pouco.

Mas Mabel tinha um segredo: ela havia anotado o telefone dos Super Protetores dos Animais (ou SUPRO) e resolveu que assim que chegasse ao Rio, ligaria para eles escondido, pedindo ajuda. E assim aconteceu. Sua mãe, Marilia, estava tentando consolá-la, explicando que os porcos existiam para servir de comida para o ser humano. Mas a menina não concordava com isso! Ela amava Neném e não queria que ele sofresse nem que virasse comida. 

Segunda-feira ao anoitecer, Mabel esperou sua mãe ir para a cozinha para preparar o jantar e antes que seu pai, Jair, chegasse do trabalho, foi até a sala, pegou o telefone e ligou para a ASP, falando bem baixinho, para que Marília não ouvisse. Seus pais sabiam dos Super Protetores e admiravam o trabalho deles, mas ela tinha medo de que eles se zangassem por ela os estar metendo em um assunto de família. Mabel era muito fã desses heróis, e Marine Água Azul era sua preferida, porque ela se achava um pouco parecida com ela e queria ser uma SUPRO quando crescesse!

E assim, quando Pet atendeu seu celular, Mizuki a pôs a par de todo o drama de Mabel e todo o seu desespero, afinal, seu porquinho de estimação, a quem muito amava, estava correndo risco de vida e ela iria sofrer muito se ele morresse. Mizuki prometera à menina que os SUPRO não permitiriam que isso acontecesse. 

Sem titubear, após anotar o endereço, Pet desligou o celular, vestiu seu uniforme, subiu em seu tapete voador, e seguiu em direção à cidadezinha onde Neném morava.


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Pet Carinho, já de uniforme, pronta para ir ajudar a menina Mabel e seu porquinho Neném

Enquanto isso, no sítio, a tia de Mabel conversava com o marido, Paulo, durante o jantar:

- A Mabel nunca vai querer comer o porco dela – disse tia Jane.

- Eu sei. É melhor a gente vender esse porco.

- Ou a gente mata logo, antes que a Mabel volte aqui. A gente diz que ele fugiu ou que alguém o roubou. O que não podemos é ficar com esse porco engordando até explodir, porco foi feito pra gente comer! E ele já está bem gordinho. Vai dar muito toucinho!  Ia ser um desperdício de carne se a gente deixasse ele morrer de gordo.

- Lá isso é verdade. Amanhã acordo cedo e dou cabo dele. Comemos ele durante a semana e quando a Mabel vier, no sábado, já não vai ver nem uma sobrinha dele, e assim, ela não vai desconfiar de nada.

- Eu posso mandar um pouco de carne, banha e linguiça pra comadre Inácia e também pro Sr. Raimundo aqui do lado. Assim acaba mais rápido.

Neste exato momento Pet Carinho chegava ao sítio em seu tapete voador. Ela desceu correndo e foi direto na direção das vozes que ouvia. Elas vinham da sala de jantar. A SUPRO dos pets chegou na janela bem de mansinho, sem ser vista e conseguiu ouvir a última frase dita por tia Jane, que foi o suficiente para que ela entendesse tudo.

“Vão matar, comer e distribuir parte da carne do porquinho da menina! Chega logo, Joãozinho, tomara que o seu cavalo Joca hoje esteja ainda mais veloz!”.

E a conversa continuava...

- Boa ideia, Jane. Vamos dar um pouco da carne pros vizinhos e acabar logo com isso. Onde já se viu, porco de estimação! Por que ela não arranja um cachorro ou um gato?

- Não foi ela que arranjou, Paulo. Ela ganhou de aniversário de uma amiga da Marília.

- É mesmo. Mas que amiga mais maluca essa, vê se pode uma coisa dessas! Dar um porco de presente pra uma criança!

E o casal caiu na gargalhada enquanto Jane se levantava da mesa e recolhia os pratos e talheres, levando-os à cozinha seguida do marido que a ajudava recolhendo as travessas e os copos.

Pet saiu da janela da casa e foi ao chiqueiro ver Neném, o único porco que havia ali. “Ele é lindo, igualzinho a Mabel o descreveu para a Mizuki”, pensou Pet consigo mesma acariciando o porco e fazendo-o dormir um soninho bem tranquilo. E assim, ela se sentou em um banco de madeira que havia ali perto para esperar pela chegada de João do Bom Chicote.

Uma hora depois surgiu João, montado em seu cavalo Joca, que era o mais veloz do mundo! Ele deu um pulo do cavalo e veio correndo em direção à Pet. Durante a viagem viera bolando um plano e estava ansioso por contá-lo à sua grande amiga e companheira de causa.

- Pet! – gritou ele

- Shhhh! Fala baixo, desse jeito você vai acordar todo mundo!

- Eu já sei o que nós vamos fazer – disse ele baixando a voz.

- Eu bem que imaginei que você, como sempre, já chegaria com plano e tudo! Conta logo, qual é a sua ideia?

- É muito simples, vamos raptar o porquinho!

- Você tá doido?

- Você tem uma ideia melhor?

- Eu vim pensando em conversar com eles, mas...

- Mas...

- Mas pelo que eu ouvi da conversa deles, não vai adiantar nada. Eles não vão entender. Nas cabeças deles, porcos são feitos unicamente pra servirem de alimento. Se formos tentar convencê-los do contrário é bem capaz de nos expulsarem daqui a pontapés e ainda matarem o porquinho na mesma hora! Você poderia usar o seu chicote neles, mas quando o efeito passasse, eles iriam acabar matando o porco mais cedo ou mais tarde! E enquanto isso a menina não ia ter mais tranquilidade, afinal, nem ela e nem nós estaríamos por perto pra vigiar a todo momento. Nem teríamos como.

Pet pensou por uns rápidos instantes, e então, se levantando, resoluta, decidiu:

- Vamos ao seu plano! Vamos raptar o Neném! E levá-lo ao santuário mais próximo, que sempre nos ajuda quando precisamos.

E assim foi feito. Pet colocou Neném em um sono ainda mais profundo, e com a ajuda de Joãozinho, o deitou em seu tapete voador, com todo cuidado e o carinho que lhe é característico. 

- Eu vou na frente avisar ao pessoal do santuário - disse João, já montando em Joca e disparando pela estrada.

Pet já ia se sentando no seu tapete, pronta pra levantar voo, quando viu que as luzes da casa haviam se acendido. O casal, provavelmente, havia acordado com o barulho do trote do cavalo de Joãozinho. Paulo, o tio de Mabel, apareceu na varanda com uma espingarda na mão.

- Quem é? Pare aí agora se não quiser levar um tiro!

Pet se assustou com a ameaça mas sua coragem e o firme propósito de salvar a vida de Neném a fizeram enfrentar o homem de frente.

- Eu sou a Pet Carinho, sou uma Super Protetora dos Animais. Fiquei sabendo do caso do porquinho Neném e estou levando-o. 

- Mas você não tem esse direito. Eu vou chamar a polícia! Isso é roubo!

Nisso, Jane, vestindo um quimono por cima da camisola surgiu ao lado do marido.

- O porco é nosso, você não pode levá-lo! - gritou ela.

- O porco é da sobrinha de vocês! E vocês é que iriam agir de maneira errada e desonesta ao se apropriarem dele sem a autorização dela. E mais: queriam matá-lo!

- Ora, ora, moça. Porcos são feitos para...

- Para viverem e serem muito bem tratados e felizes! E sem mais, estou indo.

- Espere - gritou Paulo - Você não pode fazer isso! E vai levá-lo pra onde? A Mabel vai ficar furiosa!

- Não vai não. Furiosa ela ficaria se chegasse aqui e não encontrasse o seu porquinho, a quem ela tanto ama!

- Espere aí! A Mabel está sabendo disso?

Enquanto essa discussão ocorria entre seu marido e a Super Protetora, Jane, de celular na mão, ligava para Marília, a mãe de Mabel. Esta acordou assustada, e mais chocada ainda ficou ao saber o motivo para aquele telefonema em uma hora tão imprópria. Correu até o quarto da filha e pediu satisfações. A essa altura, Jair, seu marido, também já tinha acordado e apareceu ao seu lado, aturdido, esperando que Mabel, em prantos, sentada em sua caminha cor-de-rosa, começasse a explicar o que estava acontecendo.

A garotinha, com dificuldade, e entre soluços, contou tudo a seus pais. E implorou que eles deixassem a Pet Carinho levar Neném embora do sítio. 

Jair e Marília já estavam quase convencendo a menina de que seria melhor deixar Neném no sítio dos tios mesmo e, quando fossem lá, no final de semana, eles conversariam com Jane e a fariam mudar de ideia, desistindo de matar Neném. Mabel não se sentia nada segura com essa ideia, mas ela tinha que obedecer seus pais.

Nesse exato momento, porém, o celular de Marília toca novamente. Ela atende e não consegue esconder o embaraço. Dessa vez é Pet Carinho em pessoa. 

A SUPRO havia se aproximado de Jane enquanto esta ainda falava com Marília e quando a ligação foi encerrada, pediu educadamente o celular para que visse o número. E então, usando seu próprio celular, Pet ligou para a mãe de Mabel e contou a conversa que ouvira da janela da sala de jantar, dizendo que não havia mais tempo a perder. Marília ficou chocada e bem decepcionada com os parentes, pois além de apressarem a morte do porquinho, ainda mentiriam para sua filha, e pelo jeito, para eles também. 

Pet Carinho odeia fofocas, mas nesse caso, era necessário que a verdade fosse dita de maneira completa e direta, pois havia uma vida em jogo. Na verdade duas, pois Mabel poderia até adoecer caso Neném "desaparecesse" repentinamente do sítio de seus tios. 

Pet já estava desligando o celular quando Paulo, irritado, começou a caminhar a passos largos em direção ao tapete onde estava Neném. Pet correu e parou em sua frente.

- Pare agora mesmo, senhor Paulo. Se não me obedecer ficará marcado para sempre como uma pessoa que maltrata animais!

- Ora essa, o que você quer dizer com isso, sua Mulher Maravilha de óculos?

- Eu farei aparecer uma marca na sua mão e é uma marca que nunca mais sumirá, não importa o que o senhor faça!

Paulo parou, meio incrédulo. Jane então falou:

- É verdade, Paulo. Eu já li sobre esses SUPRO. Eles têm mesmo esses poderes esquisitos, parece até coisa de bruxaria.

- Não é bruxaria. Mas isso agora não vem ao caso. Estou levando o Neném e não ousem se aproximar!

Pet Carinho fez o tapete voador se erguer no ar. Jane e Paulo olhavam boquiabertos. De repente, tomado de fúria, Paulo atirou para o alto sem pensar muito. Foi um gesto inconsequente, pois poderia ter acertado Pet. Mas acabou acertando Neném.


Paulo, ao lado de sua esposa, Jane, observa horrorizado a marca que Pet Carinho fez aparecer em sua mão direita

O porquinho acordou com seu próprio grito. Fora atingido bem no lombo. Pet esticou a mão com um gesto em direção a Paulo. No mesmo instante as costas de sua mão direita recebeu uma marca saliente que dizia "Protejam seus animais de mim, pois sou um perigo para eles".

- Você perdeu o juízo, homem. Ela avisou! - disse Jane olhando a marca na mão do marido.

Enquanto Paulo urrava de raiva, Pet acelerava em seu tapete, se preparando para descer num lugar próximo, e seguro.


***************


Neném, feliz e protegido no santuário onde é visitado quase que diariamente por Mabel e também por Pet Carinho

Pet estacionou seu tapete com o porquinho ferido em um terreno baldio e gramado. No mesmo instante adormeceu novamente Neném e usou o seu poder de cura para extrair a bala e fazer a ferida fechar e cicatrizar. Pronto, Neném estava curado e em segurança! Pet levantou voo em direção ao santuário.

Chegando lá, Joãozinho a esperava com tudo pronto para receber Neném com todo conforto, e assim, o porquinho foi colocado num abrigo muito aconchegante, que passaria de agora em diante, a ser a sua caminha. Pet contou ao amigo aspeiro o porquê da demora e explicou tudo que havia acontecido. Para não incomodar de novo a família de Mabel, com telefonemas àquelas horas da madrugada, eles optaram por enviar uma mensagem de áudio via whatsapp avisando que Neném já estava a salvo no santuário onde ficaria morando.

No dia seguinte pela manhã, lá estava Mabel, radiante, com seus pais, chegando ao santuário. Ao vê-la, Neném correu em sua direção e Mabel o abraçou e beijou, chorando. Mas agora, as lágrimas eram de felicidade e gratidão! Ela iria ver Neném todos os dias, sempre que possível. E se seus pais um dia pudessem alugar ou comprar uma casa, ela iria levá-lo para morar com ela. E mais: ela só se casaria com um marido que aceitasse o Neném! Estava decidido!

Enquanto tudo isso passava pela cabeça de Mabel, ali abraçadinha com Neném diante dos olhares emocionados de seus pais, Pet e João chegavam em suas casas para dormirem o sono dos justos. Não aguentaram esperar por Mabel. Uma outra hora se encontrariam com ela ali no santuário ao visitarem Neném. Mas bastava de emoções fortes por aquele dia. Já haviam enviado áudios para os amigos aspeiros contando os acontecimentos. Agora, o compromisso de ambos era apenas com Morfeu, o deus dos sonhos!


FIM

Deixem as árvores em paz!

 


Florisbela Mata Verde anda pela floresta amazônica para ver se está tudo em ordem

Na Amazônia, o ronco das motosserras sempre traz maus presságios e Larissa os ouve de muito, muito longe. Era dia de sua missão como fiscal. Ou "dia de ronda" como ela gostava de dizer. Larissa, para quem não sabe ou não se lembra, é conhecida publicamente pelo seu nome de SUPRO, Florisbela Mata Verde. Mas na intimidade, mesmo entre os aspeiros, ninguém a trata desta maneira.

- Que estranho - disse ela para si mesma em um dado momento - Ficou tudo tão silencioso de repente! 

Nisso ela ouve alguém gritar o seu nome, ou melhor, seu apelido:

- Lari! Ei, Lari!

O som daquela voz tão conhecida vinha do alto. Larissa olhou para cima e viu seu amigo Silvestre Selvagem "voando" de árvore em ávore pendurado em um cipó!  Fã de Rambo e de Tarzan, ele também tinha o apelido de "Curupira" por proteger a floresta, mais especificamente os animais silvestres e selvagens, daí o seu codinome. Saltando ao lado de Lari ele perguntou:

- Algum problema? Você parece preocupada.

- Justamente por não ter aparentemente nenhum problema é que eu estou preocupada. Eu ouvi de longe, quando ainda estava na cidade, um ronco de motosserra vindo dessa região da Amazônia! Mas quando cheguei aqui, ficou tudo assim, no maior silêncio. Só ouço os barulhos da natureza! Está tudo perfeito demais e isso é que é estranho!

- Ah, você está sempre procurando coisas ruins, Lari. Relaxa um pouco. Eu já fiz um bom trabalho, já salvei alguns animais, devolvi filhotes às mães e agora estou curtindo um passeio pela mata. Ei, tive uma ideia.

- Que ideia?

- Vamos apostar uma corrida antes de eu ir embora? Tenho que estar ainda hoje no Rio. 

Lari deu um sorriso torto e depois de pensar um instante, decidiu:

- E por que não? V'ambora! Até a saída da floresta?

- Até a saída da floresta - concordou Silvestre, emendando: - Já!

E já no cipó ele gritou:

- Mas tem que ser como humana, hein! Não posso competir de maneira justa com vento e chuva!

Silvestre Selvagem voando nos cipós pela floresta


E assim, lá foram os dois, deixando uma leveza gostosa tomar conta de seus seres, sempre tão ocupados em salvar a fauna e a flora da crueldade humana. Como duas crianças, eles disputaram uma corrida, em meio a risadas divertidas e brincadeiras. Mas sem poder usar seus poderes para se transformar em chuva ou vento, Larissa, a nossa Florisbela, perdeu para Silvestre, o Curupira!

- Ganhei! - gritou ele feliz e se sentindo em casa.

- Claro, você anda nos cipós e eu não! Isso não é justo. 

- Mas os seus saltos você usou!

- Mesmo saltando como uma tigresa não sou páreo pra você. Mas valeu pela diversão!

Eles se despediram alegremente, pois Silvestre estava retornando ao Rio, enquanto Larissa ainda tinha uma missão a cumprir no meio da Amazônia. Ela sabia disso e sentia que algo estranho pairava no ar.

 

****************


Os homens com suas motosserras cortam as árvores sem dó nem piedade


Larissa, saltando e farejando o ar continuava sua busca pela floresta. Ela sabia que havia algo errado. Aquele silêncio prenunciava algo ruim. E não deu outra. De repente o ruído das motosserras retornou ainda mais alto e então ela entendeu o que estava acontecendo:

- Esses bandidos tinham desligado as motosserras porque estavam indo justamente pra área mais crítica da Amazônia! Eu não acredito. Tenho certeza absoluta que eles agem na ilegalidade e na clandestinidade!

Diante da urgência, ela se apressou e, transformou-se em vento para chegar mais rápido. Ao avistar os homens serrando árvores de área de preservação, ela voltou à sua forma humana e rugiu como uma leoa que perdeu a cria. 

Assustados, os homens procuraram a fera, mas nada avistaram. Retornaram à sua triste função. Mas de repente, ouviram novamente o rugido e ao olharem para o alto de uma árvore, justamente a próxima que iriam derrubar, viram uma jovem magra e franzina a olhar para eles com cara de poucos amigos. 

- Você fez isso? - perguntou um deles, debochado.

Larissa continuou a encará-lo em silêncio.

- Ei, menina, você imita muito bem um rugido de leão. Faz de novo, faz.

E os homens então caíram na risada.

- Ei, ela não parece uma índia. O que ela está fazendo no meio da floresta e com sutiã de casca de coco?

Mais uma vez eles gargalharam.

- Desce aqui, gatinha - disse um outro que se aproximava naquele instante. 

Havia no mínimo seis duplas de homens cobrindo áreas diferentes, embora próximas.

Larissa não aguentou mais, e disparou:

- Eu também sei fazer outras imitações, querem ver?

E então ela pulou da árvore imitando o salto dos tigres.

- Tigresa - disse ela.

Os homens se assustaram, mas vendo-a ali tão perto, sozinha e desprotegida, voltaram a dar risadas, se aproximando dela com a intenção de agarrá-la. Mas então quando eles iam tocá-la, ela sumiu por entre seus dedos!

- Vento - foi a última palavra que eles ouviram a voz de Larissa dizer.

Eles começaram a procurar por ela e passaram a especular se aquela moça não seria uma bruxa ou uma feiticeira. 

O vento começou a ficar mais forte, movimentando os galhos das árvores e derrubando folhas secas. Os homens se assustaram ainda mais. Mas mesmo assim, ainda que inseguros, insistiram em continuar cortando as árvores com suas motosserras barulhentas. 

Mesmo assustados com aquele vento forte e inexplicável e o sumiço da moça, os homens insistem em cortar as árvores

Larissa então voltou à sua forma humana e, usando outro de seus poderes, tocou a árvore que estava para ser cortada gerando um escudo protetor. Os homens encostaram nela suas motosserras. Mas nada aconteceu. Eles olharam para Larissa e concluíram:

- Não há dúvidas. Ela é uma bruxa. Peguem ela!

Larissa então, rapidamente, foi saltando de árvore em árvore e colocando nelas seu escudo. Mas por mais rápida que fosse, não foi páreo para uma dúzia de homens, em sua maioria grandes e robustos. Dois deles a agarraram e amarraram suas mãos para trás. 

Larissa sentiu que era a hora de tentar arrancar deles alguma informação.


****************


Fora da floresta um caminhão cheio de madeiras estava estacionado. Dois homens, impacientes começaram a discutir.

- Eles estão demorando muito! Já era pra gente estar na estrada com essa madeira. Se os homens descobrem estamos ferrados!

- O que será que houve? Por que o atraso? Eu vou lá ver o que está havendo!

E sem esperar qualquer anuência do colega, foi entrando pela mata adentro. Ele sabia a direção exata de onde seus comparsas deveriam estar e de repente ele viu os troncos pelo chão, constatando que eles passaram por ali e estavam fazendo seu serviço com eficiência. 

E foi aí que ele ouviu um rugido.

- Um leão por aqui? Será isso mesmo? Ou será a onça pintada?

Ele foi andando e se aproximando devagar.

- Será que essa fera devorou meus homens? Se isso aconteceu, posso ser devorado também.

Nesse exato momento três de seus homens vinham correndo, assustados, da direção contrária e se chocaram com ele, indo os quatro ao chão com toda força.

- Ela é uma feiticeira - gritou um dos homens.

- Conseguimos amarrá-la mas ela deu um rugido de leoa, acho que ela vai se soltar e matar todos nós!

Se levantando, o motorista do caminhão e chefe do grupo, sem entender nada perguntou, irritado:

- Ela quem? Quem é a feiticeira? De quem vocês estão falando?

E então os três, meio que atropelando as palavras, começaram a narrar tudo que havia acontecido até aquele momento, em que o rugido da "leoa" os fez sair correndo.


****************

Larissa-Florisbela se transforma em chuva e cai sobre a floresta


Após soltar o rugido amedrontador, Larissa começou a falar.

- Não se aproximem de mim! Não sou feiticeira nenhuma mas sou uma Super Protetora dos Animais e da Natureza. Não sei se vocês já ouviram falar de nós, mas somos um grupo que atua contra criminosos feito vocês, usando nossos super poderes que recebemos de uma alienígena do Bem. Eu não vou permitir que vocês cortem mais nenhuma árvore! Eu sei que a polícia não resolve nada por aqui mas eu vou resolver. Quero que vocês levem todos os troncos que já cortaram para que essas árvores não tenham morrido em vão. Mas não se atrevam a retornar aqui, porque isso é área de preservação e mais cedo ou mais tarde a polícia vai atuar. Vocês vão acabar atrás das grandes se insistirem nessa prática ilegal! Agora vão embora!

Um dos homens começou a rir histericamente, e acabou sendo acompanhado por outros na sua risada nervosa e insana. 

- Quem vai nos fazer ir embora daqui, mocinha? Você? Hahaha!

- E ainda por cima amarrada! E acha que só porque fica rugindo vai conseguir nos fazer sair daqui.

- Eu já fiz três irem embora apenas com meu rugido - disse Larissa.

- Aqueles foram embora porque são covardes, medrosos! Nós não temos medo de leoas amarradas! Pode rugir à vontade! 

E mais uma vez, foram se aproximando dela, que novamente, se transformou em vento, deixando as cordas que prendiam suas mãos caírem no chão.

- Ela vira vento! - disse um dos homens.

Mas de repente, um relâmpago rasgou o céu, seguido de um trovão ensurdecedor. No mesmo instante uma chuva forte e ventosa começou a cair. Assustados, os homens quiseram correr. Larissa fez a chuva parar e, de cima de um galho, tendo retornado à sua forma humana, sentenciou:

- Vou esperar o tempo suficiente para que vocês levem os troncos já derrubados. Depois haverá uma chuva ainda mais forte do que essa que vocês viram agora! E nunca mais voltem aqui! Deixem as árvores em paz se não quiserem me encontrar de novo!

Os homens dessa vez não brincaram. Ajudados pelo motorista e os outros três que acabaram retornando ao local, deram um jeito de sumir dali carregando as motosserras e todos os troncos que já haviam sido arrancados. O medo faz as pessoas ficarem fortes e ligeiras!

No exato momento em que eles entravam no caminhão, antes mesmo de ligarem o motor, uma chuva fortíssima caiu do céu como que lavando a floresta da maldade humana. Eles sabiam que aquela chuva era ela: a moça que rugia feito leoa, saltava feito tigresa e se transformava em vento e chuva para proteger as árvores e plantas das florestas. 

FIM