Deixem as árvores em paz!

 


Florisbela Mata Verde anda pela floresta amazônica para ver se está tudo em ordem

Na Amazônia, o ronco das motosserras sempre traz maus presságios e Larissa os ouve de muito, muito longe. Era dia de sua missão como fiscal. Ou "dia de ronda" como ela gostava de dizer. Larissa, para quem não sabe ou não se lembra, é conhecida publicamente pelo seu nome de SUPRO, Florisbela Mata Verde. Mas na intimidade, mesmo entre os aspeiros, ninguém a trata desta maneira.

- Que estranho - disse ela para si mesma em um dado momento - Ficou tudo tão silencioso de repente! 

Nisso ela ouve alguém gritar o seu nome, ou melhor, seu apelido:

- Lari! Ei, Lari!

O som daquela voz tão conhecida vinha do alto. Larissa olhou para cima e viu seu amigo Silvestre Selvagem "voando" de árvore em ávore pendurado em um cipó!  Fã de Rambo e de Tarzan, ele também tinha o apelido de "Curupira" por proteger a floresta, mais especificamente os animais silvestres e selvagens, daí o seu codinome. Saltando ao lado de Lari ele perguntou:

- Algum problema? Você parece preocupada.

- Justamente por não ter aparentemente nenhum problema é que eu estou preocupada. Eu ouvi de longe, quando ainda estava na cidade, um ronco de motosserra vindo dessa região da Amazônia! Mas quando cheguei aqui, ficou tudo assim, no maior silêncio. Só ouço os barulhos da natureza! Está tudo perfeito demais e isso é que é estranho!

- Ah, você está sempre procurando coisas ruins, Lari. Relaxa um pouco. Eu já fiz um bom trabalho, já salvei alguns animais, devolvi filhotes às mães e agora estou curtindo um passeio pela mata. Ei, tive uma ideia.

- Que ideia?

- Vamos apostar uma corrida antes de eu ir embora? Tenho que estar ainda hoje no Rio. 

Lari deu um sorriso torto e depois de pensar um instante, decidiu:

- E por que não? V'ambora! Até a saída da floresta?

- Até a saída da floresta - concordou Silvestre, emendando: - Já!

E já no cipó ele gritou:

- Mas tem que ser como humana, hein! Não posso competir de maneira justa com vento e chuva!

Silvestre Selvagem voando nos cipós pela floresta


E assim, lá foram os dois, deixando uma leveza gostosa tomar conta de seus seres, sempre tão ocupados em salvar a fauna e a flora da crueldade humana. Como duas crianças, eles disputaram uma corrida, em meio a risadas divertidas e brincadeiras. Mas sem poder usar seus poderes para se transformar em chuva ou vento, Larissa, a nossa Florisbela, perdeu para Silvestre, o Curupira!

- Ganhei! - gritou ele feliz e se sentindo em casa.

- Claro, você anda nos cipós e eu não! Isso não é justo. 

- Mas os seus saltos você usou!

- Mesmo saltando como uma tigresa não sou páreo pra você. Mas valeu pela diversão!

Eles se despediram alegremente, pois Silvestre estava retornando ao Rio, enquanto Larissa ainda tinha uma missão a cumprir no meio da Amazônia. Ela sabia disso e sentia que algo estranho pairava no ar.

 

****************


Os homens com suas motosserras cortam as árvores sem dó nem piedade


Larissa, saltando e farejando o ar continuava sua busca pela floresta. Ela sabia que havia algo errado. Aquele silêncio prenunciava algo ruim. E não deu outra. De repente o ruído das motosserras retornou ainda mais alto e então ela entendeu o que estava acontecendo:

- Esses bandidos tinham desligado as motosserras porque estavam indo justamente pra área mais crítica da Amazônia! Eu não acredito. Tenho certeza absoluta que eles agem na ilegalidade e na clandestinidade!

Diante da urgência, ela se apressou e, transformou-se em vento para chegar mais rápido. Ao avistar os homens serrando árvores de área de preservação, ela voltou à sua forma humana e rugiu como uma leoa que perdeu a cria. 

Assustados, os homens procuraram a fera, mas nada avistaram. Retornaram à sua triste função. Mas de repente, ouviram novamente o rugido e ao olharem para o alto de uma árvore, justamente a próxima que iriam derrubar, viram uma jovem magra e franzina a olhar para eles com cara de poucos amigos. 

- Você fez isso? - perguntou um deles, debochado.

Larissa continuou a encará-lo em silêncio.

- Ei, menina, você imita muito bem um rugido de leão. Faz de novo, faz.

E os homens então caíram na risada.

- Ei, ela não parece uma índia. O que ela está fazendo no meio da floresta e com sutiã de casca de coco?

Mais uma vez eles gargalharam.

- Desce aqui, gatinha - disse um outro que se aproximava naquele instante. 

Havia no mínimo seis duplas de homens cobrindo áreas diferentes, embora próximas.

Larissa não aguentou mais, e disparou:

- Eu também sei fazer outras imitações, querem ver?

E então ela pulou da árvore imitando o salto dos tigres.

- Tigresa - disse ela.

Os homens se assustaram, mas vendo-a ali tão perto, sozinha e desprotegida, voltaram a dar risadas, se aproximando dela com a intenção de agarrá-la. Mas então quando eles iam tocá-la, ela sumiu por entre seus dedos!

- Vento - foi a última palavra que eles ouviram a voz de Larissa dizer.

Eles começaram a procurar por ela e passaram a especular se aquela moça não seria uma bruxa ou uma feiticeira. 

O vento começou a ficar mais forte, movimentando os galhos das árvores e derrubando folhas secas. Os homens se assustaram ainda mais. Mas mesmo assim, ainda que inseguros, insistiram em continuar cortando as árvores com suas motosserras barulhentas. 

Mesmo assustados com aquele vento forte e inexplicável e o sumiço da moça, os homens insistem em cortar as árvores

Larissa então voltou à sua forma humana e, usando outro de seus poderes, tocou a árvore que estava para ser cortada gerando um escudo protetor. Os homens encostaram nela suas motosserras. Mas nada aconteceu. Eles olharam para Larissa e concluíram:

- Não há dúvidas. Ela é uma bruxa. Peguem ela!

Larissa então, rapidamente, foi saltando de árvore em árvore e colocando nelas seu escudo. Mas por mais rápida que fosse, não foi páreo para uma dúzia de homens, em sua maioria grandes e robustos. Dois deles a agarraram e amarraram suas mãos para trás. 

Larissa sentiu que era a hora de tentar arrancar deles alguma informação.


****************


Fora da floresta um caminhão cheio de madeiras estava estacionado. Dois homens, impacientes começaram a discutir.

- Eles estão demorando muito! Já era pra gente estar na estrada com essa madeira. Se os homens descobrem estamos ferrados!

- O que será que houve? Por que o atraso? Eu vou lá ver o que está havendo!

E sem esperar qualquer anuência do colega, foi entrando pela mata adentro. Ele sabia a direção exata de onde seus comparsas deveriam estar e de repente ele viu os troncos pelo chão, constatando que eles passaram por ali e estavam fazendo seu serviço com eficiência. 

E foi aí que ele ouviu um rugido.

- Um leão por aqui? Será isso mesmo? Ou será a onça pintada?

Ele foi andando e se aproximando devagar.

- Será que essa fera devorou meus homens? Se isso aconteceu, posso ser devorado também.

Nesse exato momento três de seus homens vinham correndo, assustados, da direção contrária e se chocaram com ele, indo os quatro ao chão com toda força.

- Ela é uma feiticeira - gritou um dos homens.

- Conseguimos amarrá-la mas ela deu um rugido de leoa, acho que ela vai se soltar e matar todos nós!

Se levantando, o motorista do caminhão e chefe do grupo, sem entender nada perguntou, irritado:

- Ela quem? Quem é a feiticeira? De quem vocês estão falando?

E então os três, meio que atropelando as palavras, começaram a narrar tudo que havia acontecido até aquele momento, em que o rugido da "leoa" os fez sair correndo.


****************

Larissa-Florisbela se transforma em chuva e cai sobre a floresta


Após soltar o rugido amedrontador, Larissa começou a falar.

- Não se aproximem de mim! Não sou feiticeira nenhuma mas sou uma Super Protetora dos Animais e da Natureza. Não sei se vocês já ouviram falar de nós, mas somos um grupo que atua contra criminosos feito vocês, usando nossos super poderes que recebemos de uma alienígena do Bem. Eu não vou permitir que vocês cortem mais nenhuma árvore! Eu sei que a polícia não resolve nada por aqui mas eu vou resolver. Quero que vocês levem todos os troncos que já cortaram para que essas árvores não tenham morrido em vão. Mas não se atrevam a retornar aqui, porque isso é área de preservação e mais cedo ou mais tarde a polícia vai atuar. Vocês vão acabar atrás das grandes se insistirem nessa prática ilegal! Agora vão embora!

Um dos homens começou a rir histericamente, e acabou sendo acompanhado por outros na sua risada nervosa e insana. 

- Quem vai nos fazer ir embora daqui, mocinha? Você? Hahaha!

- E ainda por cima amarrada! E acha que só porque fica rugindo vai conseguir nos fazer sair daqui.

- Eu já fiz três irem embora apenas com meu rugido - disse Larissa.

- Aqueles foram embora porque são covardes, medrosos! Nós não temos medo de leoas amarradas! Pode rugir à vontade! 

E mais uma vez, foram se aproximando dela, que novamente, se transformou em vento, deixando as cordas que prendiam suas mãos caírem no chão.

- Ela vira vento! - disse um dos homens.

Mas de repente, um relâmpago rasgou o céu, seguido de um trovão ensurdecedor. No mesmo instante uma chuva forte e ventosa começou a cair. Assustados, os homens quiseram correr. Larissa fez a chuva parar e, de cima de um galho, tendo retornado à sua forma humana, sentenciou:

- Vou esperar o tempo suficiente para que vocês levem os troncos já derrubados. Depois haverá uma chuva ainda mais forte do que essa que vocês viram agora! E nunca mais voltem aqui! Deixem as árvores em paz se não quiserem me encontrar de novo!

Os homens dessa vez não brincaram. Ajudados pelo motorista e os outros três que acabaram retornando ao local, deram um jeito de sumir dali carregando as motosserras e todos os troncos que já haviam sido arrancados. O medo faz as pessoas ficarem fortes e ligeiras!

No exato momento em que eles entravam no caminhão, antes mesmo de ligarem o motor, uma chuva fortíssima caiu do céu como que lavando a floresta da maldade humana. Eles sabiam que aquela chuva era ela: a moça que rugia feito leoa, saltava feito tigresa e se transformava em vento e chuva para proteger as árvores e plantas das florestas. 

FIM

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